No mundo de ontem, dominado pelo Ocidente, as coisas eram diferentes. Diante de um único antagonista, a Rússia sabia o que queria alcançar e como definir seus objetivos. Todas as idéias de ingressar no Ocidente ou derrubá-lo pertenciam lá, no período do fim da Segunda Guerra Mundial até, digamos, a ascensão de Xi Jinping na China, a presidência de Donald Trump e o Brexit. Mas para a Rússia agora, o mundo realmente parece “multipolar”. E não é muito agradável.
O novo mundo é tão caótico que Moscou parece considerar inútil qualquer planejamento de longo prazo. Se, para os ex-líderes da Rússia, “multipolaridade” costumava significar “combater a hegemonia ocidental”, disse-me Fyodor Lukyanov, um importante especialista em Rússia, para Putin “trata-se de lidar com o mundo que é muito complicado”. Para navegar neste terreno mais complexo, a Rússia faz experiências com intrusões paramilitares, negocia sua maneira de alavancar, conta com medidas limitadas ou temporárias e muitas vezes opta por fazer menos em vez de mais. De uma forma ou de outra, isso explica seu envolvimento no Sahel, a Médio Oriente e a Cáucaso.
Há um objetivo subjacente aos movimentos de Moscou, com certeza. Mas geralmente não é diretamente sobre o Ocidente. Em vez disso, trata-se de se ajustar a um mundo agora moldado principalmente pela competição entre os Estados Unidos e a China. Para evitar ficar presa entre os dois, a Rússia espera aumentar sua influência regional – na África Ocidental, no Oriente Médio, nos Bálcãs – para aumentar seu poder de barganha para o futuro incerto. (O Ocidente ainda pode ser picado, é claro.)
O envolvimento da Rússia na Síria, por exemplo, pode ter começado como uma tentativa de impedir a queda do regime de Bashar al-Assad – algo que de fato colidiu com a posição do Ocidente. Mas hoje em dia se trata de alavancagem regional e das vantagens que ela traz, entre elas o status de corretora de energia global e a capacidade de fazer com que a Arábia Saudita considere as opiniões da Rússia ao decidir sobre cotas de produção de petróleo. O Ocidente, focado na velha imagem da Rússia como um adversário astuto, perde a maior parte disso.
Mas a leitura equivocada é dupla: a Rússia também atribui motivos desatualizados ao Ocidente. E os maiores equívocos estão reservados à União Europeia. Surpreendentemente, o establishment da política externa de Moscou parece ter concluído principalmente que o bloco tentou usar proativamente o ativista anticorrupção Aleksei Navalny como seu agente para destruir o sistema político da Rússia. A acusação, é claro, está errada. A Europa reagiu aos eventos que se abateram sobre ela – dando a Navalny, envenenado em agosto do ano passado, tratamento médico e expressando seu descontentamento depois que ele foi preso ao retornar à Rússia – da única maneira possível.
No mundo de ontem, dominado pelo Ocidente, as coisas eram diferentes. Diante de um único antagonista, a Rússia sabia o que queria alcançar e como definir seus objetivos. Todas as idéias de ingressar no Ocidente ou derrubá-lo pertenciam lá, no período do fim da Segunda Guerra Mundial até, digamos, a ascensão de Xi Jinping na China, a presidência de Donald Trump e o Brexit. Mas para a Rússia agora, o mundo realmente parece “multipolar”. E não é muito agradável.
O novo mundo é tão caótico que Moscou parece considerar inútil qualquer planejamento de longo prazo. Se, para os ex-líderes da Rússia, “multipolaridade” costumava significar “combater a hegemonia ocidental”, disse-me Fyodor Lukyanov, um importante especialista em Rússia, para Putin “trata-se de lidar com o mundo que é muito complicado”. Para navegar neste terreno mais complexo, a Rússia faz experiências com intrusões paramilitares, negocia sua maneira de alavancar, conta com medidas limitadas ou temporárias e muitas vezes opta por fazer menos em vez de mais. De uma forma ou de outra, isso explica seu envolvimento no Sahel, a Médio Oriente e a Cáucaso.
Há um objetivo subjacente aos movimentos de Moscou, com certeza. Mas geralmente não é diretamente sobre o Ocidente. Em vez disso, trata-se de se ajustar a um mundo agora moldado principalmente pela competição entre os Estados Unidos e a China. Para evitar ficar presa entre os dois, a Rússia espera aumentar sua influência regional – na África Ocidental, no Oriente Médio, nos Bálcãs – para aumentar seu poder de barganha para o futuro incerto. (O Ocidente ainda pode ser picado, é claro.)
O envolvimento da Rússia na Síria, por exemplo, pode ter começado como uma tentativa de impedir a queda do regime de Bashar al-Assad – algo que de fato colidiu com a posição do Ocidente. Mas hoje em dia se trata de alavancagem regional e das vantagens que ela traz, entre elas o status de corretora de energia global e a capacidade de fazer com que a Arábia Saudita considere as opiniões da Rússia ao decidir sobre cotas de produção de petróleo. O Ocidente, focado na velha imagem da Rússia como um adversário astuto, perde a maior parte disso.
Mas a leitura equivocada é dupla: a Rússia também atribui motivos desatualizados ao Ocidente. E os maiores equívocos estão reservados à União Europeia. Surpreendentemente, o establishment da política externa de Moscou parece ter concluído principalmente que o bloco tentou usar proativamente o ativista anticorrupção Aleksei Navalny como seu agente para destruir o sistema político da Rússia. A acusação, é claro, está errada. A Europa reagiu aos eventos que se abateram sobre ela – dando a Navalny, envenenado em agosto do ano passado, tratamento médico e expressando seu descontentamento depois que ele foi preso ao retornar à Rússia – da única maneira possível.
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