Embora Covid-19 seja principalmente uma doença respiratória, pesquisas realizadas no início da pandemia revelaram que as pessoas infectadas com o coronavírus costumam eliminá-lo nas fezes. Essa descoberta, combinada com a escala e a urgência da crise, despertou o interesse imediato em rastrear o vírus por amostragem de águas residuais.
Ao pesquisar e contar certos genes do coronavírus no esgoto, os pesquisadores esperavam determinar se o vírus estava presente em uma determinada região e quão disseminado estava. Em pouco tempo, projetos de vigilância de águas residuais estavam surgindo em todos os lugares, de Kansas City, Missouri, a Kathmandu, Nepal.
Os dados resultantes, agora aparecendo em uma enxurrada de artigos científicos e pré-impressos, forneceram uma poderosa prova de princípio. Os cientistas detectaram o vírus em todos os tipos de ambientes: em água tratada e não tratada, em lodo e sólidos sedimentados, em esgotos e fossas sépticas, em latrinas de fossa e sistemas de drenagem a céu aberto. Eles o encontraram na água que flui para enormes estações de tratamento e fora de escolas, dormitórios e lares de idosos. “É simplesmente fascinante como essa ferramenta se tornou robusta”, disse Peter Grevatt, executivo-chefe da Water Research Foundation.
Equipes em todo o mundo – nos Estados Unidos, França, Portugal, Índia, Irã, Brasil, Canadá e em outros lugares – também descobriu que os dados de águas residuais pareciam ser um indicador preciso do que estava acontecendo no mundo real. Quando o número de casos de Covid-19 diagnosticados em uma área aumentou, mais coronavírus apareceram nas águas residuais. Os níveis do vírus caíram quando as áreas instituíram bloqueios e aumentaram quando foram reabertas.
Várias equipes também confirmaram que o esgoto pode servir como um sistema de alerta precoce; Os níveis virais de águas residuais frequentemente atingiam o pico dias antes que os médicos observassem um pico nos casos oficiais de Covid-19.
Esse tempo de espera, que pode variar de alguns dias a duas semanas, depende em parte da robustez dos programas de testes clínicos locais, dizem os cientistas: Quando mais pessoas estão sendo testadas para o vírus com mais frequência, os dados de águas residuais fornecem menos aviso prévio. O tempo de espera também existe porque as pessoas infectadas muitas vezes começam a transmitir o vírus, SARS-CoV-2, antes de sentirem os sintomas e, depois de adoecerem, frequentemente demoram a procurar atendimento médico.
“Acho que as águas residuais provaram ser um dos meios mais objetivos, eu diria, de entender o que o SARS-CoV-2 está fazendo em nossa sociedade”, disse Gertjan Medema, microbiologista do KWR Water Research Institute na Holanda.
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