Se lhe convém, em outras palavras, a guerra é normal — a paz pode ser agradável, mas às vezes deve abrir caminho para a guerra, mesmo antes que o desespero faça da guerra um último recurso. E aqui sobrevive aquele estado de espírito medieval, sob o qual nem sequer se pensava no estado de guerra como uma trágica anomalia, “uma coisa”, como poderíamos dizer hoje.
Como tal, um pensamento revelador que alguém pode ter ao assistir os eventos se desenrolarem na Ucrânia é que essa história coloca um freio na tendência americana de exagerar na autocrítica inerente ao nosso experimento. Ouvimos de alguns que ensinam que todo o negócio saiu dos trilhos, ou que o esforço talvez tenha sido equivocado no início. Essa perspectiva se estende da ácida (e influente) condenação da trajetória da América na obra do falecido historiador Howard Zinn, que escreviem seu livro “A People’s History of the United States”, que “não há um país na história mundial em que o racismo tenha sido mais importante, por tanto tempo, quanto os Estados Unidos”, àqueles, mais recentemente, que parecem dizer que a própria essência da América tem sido sua escravização e abuso do povo negro: na semana passada em “The View”, Elie Mystal do The Nation pronunciou que nossa Constituição é “meio que lixo”, escrito por “pessoas brancas que estavam dispostas a fazer acordos com traficantes de escravos e colonos”. Poucos podem perder um senso orientador entre muitos de nossa classe de escritores de que qualquer visão inteligente da América virá com um aceno de cabeça sombrio, desencantado e condenatório.
Há um elemento histriônico nessa visão, e poucas coisas apontam mais para isso do que observar o que pode acontecer sob outras condições, para pessoas que experimentam a vida tão vividamente quanto nós, e ainda assim devem sofrer as depredações de uma sociedade que realmente caiu peças. Imagine o que o ucraniano médio diria neste momento se ouvir alguém nos Estados Unidos retratar como uma tragédia que alguns caminhoneiros tenham circulado a Washington, DC, Beltway para protestar contra os mandatos da vacina Covid, ou que um podcaster popular tenha pronunciado a palavra N quando falando sobre isso?
Sobre esse último assunto, por exemplo, é fácil lamentar o eclipse da liberdade de expressão na América, com cancelamentos, da esquerda, em nome da justiça social e proibição de livros pela direita. Pode-se até referir-se a essas coisas retoricamente, e mais expressivamente, como “defenestrações”. E embora eu certamente defenda essa linguagem retórica, vamos encarar: na Rússia, o próprio conceito de liberdade de expressão é, pelo menos na prática, uma abstração, defendida com amargura pelos dissidentes como uma inovação necessária, não referida como um lembrete de um valor estabelecido (consagrado, aliás, na já mencionada Constituição “lixo”). Figuras como Aleksei Navalny e Alexander Litvinenko compreenderam os perigos de fazê-lo. No que diz respeito à defenestração, não é inédito na Rússia que jornalistas e advogados dissidentes sejam relatados, muito provavelmente, como tendo caído das janelas para suas mortes.
Também vale lembrar que não faz muito tempo, os Estados Unidos invadiram e ocuparam o Iraque. E embora isso não justifique, de forma alguma, a guerra de Putin, ou a propaganda que ele ofereceu para justificá-la, a ameaça que nos disseram que o Iraque representava para o mundo era uma miragem, não muito diferente da afirmação de Putin agora que a Ucrânia representa uma ameaça à Rússia. Duas décadas depois, é razoável supor que os americanos aprenderam uma lição com o desastre que foi a guerra do Iraque e suas consequências intermináveis, como a ascensão do Estado Islâmico. É difícil imaginar um futuro presidente americano de qualquer partido arrastando descuidadamente este país para outro atoleiro baseado em pretextos tão frágeis. Pode-se não colocar algo parecido com o ex-presidente Donald Trump, mas ele foi, nisso, excepcional, deixando muitos impressionados por sua falta de circunspecção ou compromisso com as normas. Na Rússia, Putin tem sido a norma por quase um quarto de século.
Se lhe convém, em outras palavras, a guerra é normal — a paz pode ser agradável, mas às vezes deve abrir caminho para a guerra, mesmo antes que o desespero faça da guerra um último recurso. E aqui sobrevive aquele estado de espírito medieval, sob o qual nem sequer se pensava no estado de guerra como uma trágica anomalia, “uma coisa”, como poderíamos dizer hoje.
Como tal, um pensamento revelador que alguém pode ter ao assistir os eventos se desenrolarem na Ucrânia é que essa história coloca um freio na tendência americana de exagerar na autocrítica inerente ao nosso experimento. Ouvimos de alguns que ensinam que todo o negócio saiu dos trilhos, ou que o esforço talvez tenha sido equivocado no início. Essa perspectiva se estende da ácida (e influente) condenação da trajetória da América na obra do falecido historiador Howard Zinn, que escreviem seu livro “A People’s History of the United States”, que “não há um país na história mundial em que o racismo tenha sido mais importante, por tanto tempo, quanto os Estados Unidos”, àqueles, mais recentemente, que parecem dizer que a própria essência da América tem sido sua escravização e abuso do povo negro: na semana passada em “The View”, Elie Mystal do The Nation pronunciou que nossa Constituição é “meio que lixo”, escrito por “pessoas brancas que estavam dispostas a fazer acordos com traficantes de escravos e colonos”. Poucos podem perder um senso orientador entre muitos de nossa classe de escritores de que qualquer visão inteligente da América virá com um aceno de cabeça sombrio, desencantado e condenatório.
Há um elemento histriônico nessa visão, e poucas coisas apontam mais para isso do que observar o que pode acontecer sob outras condições, para pessoas que experimentam a vida tão vividamente quanto nós, e ainda assim devem sofrer as depredações de uma sociedade que realmente caiu peças. Imagine o que o ucraniano médio diria neste momento se ouvir alguém nos Estados Unidos retratar como uma tragédia que alguns caminhoneiros tenham circulado a Washington, DC, Beltway para protestar contra os mandatos da vacina Covid, ou que um podcaster popular tenha pronunciado a palavra N quando falando sobre isso?
Sobre esse último assunto, por exemplo, é fácil lamentar o eclipse da liberdade de expressão na América, com cancelamentos, da esquerda, em nome da justiça social e proibição de livros pela direita. Pode-se até referir-se a essas coisas retoricamente, e mais expressivamente, como “defenestrações”. E embora eu certamente defenda essa linguagem retórica, vamos encarar: na Rússia, o próprio conceito de liberdade de expressão é, pelo menos na prática, uma abstração, defendida com amargura pelos dissidentes como uma inovação necessária, não referida como um lembrete de um valor estabelecido (consagrado, aliás, na já mencionada Constituição “lixo”). Figuras como Aleksei Navalny e Alexander Litvinenko compreenderam os perigos de fazê-lo. No que diz respeito à defenestração, não é inédito na Rússia que jornalistas e advogados dissidentes sejam relatados, muito provavelmente, como tendo caído das janelas para suas mortes.
Também vale lembrar que não faz muito tempo, os Estados Unidos invadiram e ocuparam o Iraque. E embora isso não justifique, de forma alguma, a guerra de Putin, ou a propaganda que ele ofereceu para justificá-la, a ameaça que nos disseram que o Iraque representava para o mundo era uma miragem, não muito diferente da afirmação de Putin agora que a Ucrânia representa uma ameaça à Rússia. Duas décadas depois, é razoável supor que os americanos aprenderam uma lição com o desastre que foi a guerra do Iraque e suas consequências intermináveis, como a ascensão do Estado Islâmico. É difícil imaginar um futuro presidente americano de qualquer partido arrastando descuidadamente este país para outro atoleiro baseado em pretextos tão frágeis. Pode-se não colocar algo parecido com o ex-presidente Donald Trump, mas ele foi, nisso, excepcional, deixando muitos impressionados por sua falta de circunspecção ou compromisso com as normas. Na Rússia, Putin tem sido a norma por quase um quarto de século.
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