As mãos da mãe tremiam quando ela começou a escrever no corpo do filho de 2 anos. Eles tremeram tanto que ela não conseguiu escrever corretamente na primeira tentativa, embora a informação fosse uma segunda natureza: o nome de sua filha, Vira, junto com sua data de nascimento e os números de telefone da família.
“Pensei que, se meu marido e eu morrêssemos, Vira poderia descobrir quem ela é”, lembrou a mãe, Oleksandra Makoviy.
Para Vira, de fralda em sua casa em Kiev, a escrita em suas costas era um jogo. Ela não sabia que o bombardeio tinha começado.
A tentativa desesperada de Makoviy de preparar sua filha para a possibilidade de ficar órfã enquanto a família tentava escapar da capital ucraniana durante a invasão russa tornou-se um símbolo doloroso da angústia de uma nação de pais.
Uma foto das costas de Vira que a Sra. Makoviy compartilhado no Instagram foi visto centenas de milhares de vezes, depois de ter sido amplificado por jornalistas ucranianos e funcionários do governo. Mensagens de apoio chegaram de pessoas de todo o mundo – muitos pais ucranianos disseram que tomaram medidas semelhantes, e outros transformaram a imagem em arte em homenagem aos inocentes do país nas redes sociais.
O presidente Volodymyr Zelensky fez uma referência direta a esforços como o de Makoviy em um discurso ao Parlamento espanhol Semana Anterior.
“Imagine isso: as mães na Ucrânia escrevem nas costas de seus filhos pequenos”, disse ele, acrescentando que a Rússia estava destruindo “qualquer base da vida normal”.
O amplo alcance da foto levou algumas pessoas, principalmente no Twitter, a acusar Makoviy de encenar o momento. Mas ela disse que compartilhou a foto porque queria que seu pequeno público na época sentisse a “loucura” que os pais ucranianos estavam enfrentando.
O início da invasão da Rússia em 24 de fevereiro deixou Makoviy em choque. Ela descreveu a rotina diária da família em um estado de sonho e lembrou-se de tentar brincar com Vira ao som de bombas ao longe.
Mas Makoviy, uma pintora de 33 anos que nasceu e cresceu em Kiev, também sabia que a ilha artificial em que viviam ao longo do rio Dnipro não tinha abrigo subterrâneo, disse ela. Visões dos horrores que as forças russas desencadearam na cidade síria de Aleppo surgiram em sua mente.
Guerra Rússia-Ucrânia: Principais Desenvolvimentos
A Rússia prepara uma nova ofensiva. A Ucrânia está se preparando para um ataque russo ao longo de sua frente oriental, onde autoridades ucranianas alertaram os civis que ainda vivem na região que o tempo para escapar está se esgotando. Mas o caminho para a segurança está repleto de perigos, com relatos de civis ucranianos sendo mortos enquanto tentavam fugir.
A família arrumou o carro e saiu da capital à noite.
Antes de partirem, a Sra. Makoviy rabiscou as informações de Vira nas costas. A idade de Vira e a incapacidade de entender a situação foram uma bênção, disse Makoviy. A criança herdou o amor pela arte – ela gostava de desenhar no próprio corpo – e não tinha ideia da gravidade do que sua mãe inscreveu nela.
Ainda assim, Makoviy foi levada às lágrimas no caminho para o oeste pelos repetidos apelos de sua filha para ir para casa e ver sua avó, que lhe dera o ursinho de pelúcia que trouxeram e não escapou da Ucrânia até mais tarde.
A Sra. Makoviy, que não conseguia dormir ou manter a comida no estômago até cruzar a fronteira para a Moldávia, não queria mentir. “Não podemos ir para casa agora”, disse ela à filha.
A família acabou chegando a uma vila no sul da França, onde encontraram refúgio. Falando por telefone, Makoviy disse que achava que, se o pior tivesse acontecido, Vira poderia pelo menos olhar para o Instagram de sua mãe, cheio de momentos cotidianos de sua vida antes da guerra, e ver que ela estava cercada de amar.
Após a jornada, Vira também tem lembranças físicas desse amor – vários voluntários em sua rota presentearam seus ursinhos de pelúcia. Junto com o urso de sua avó, que está viajando da Polônia para se reunir com ela, ela acumulou uma pequena coleção.
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