O Departamento de Foniatria da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia chama atenção para os impactos que o Transtorno do Espectro Autista (TEA) e o Transtorno do Desenvolvimento da Linguagem (TDL) têm no desenvolvimento infantil. Ambos os distúrbios possuem características semelhantes que podem tornar o diagnóstico desafiador.
Os primeiros sinais que podem indicar a presença do TEA incluem atrasos no desenvolvimento da fala, um vocabulário restrito e dificuldades em compreender o que os outros dizem. Estes sinais são cruciais para que os familiares busquem a orientação de especialistas. O TEA é um transtorno do neurodesenvolvimento que afeta cerca de 2,8% das crianças, de acordo com dados do Center of Diseases Control and Prevention (CDC), uma referência na pesquisa sobre o tema nos Estados Unidos.
De acordo com o que enfatiza Mônica Simons Guerra, coordenadora do Departamento de Foniatria da ABORL-CCF, o TDL é outra condição que, embora menos conhecida, afeta uma proporção ainda maior de crianças. Ele interfere no neurodesenvolvimento, impactando a capacidade de comunicação e causando dificuldades na fala e na compreensão, afetando a interação social e o aprendizado escolar. Estima-se que cerca de 7,5% das crianças apresentam o diagnóstico de TDL. Essa elevada prevalência torna essencial o reconhecimento adequado dos sintomas.
É importante ressaltar que tanto o TEA quanto o TDL são condições que afetam o desenvolvimento infantil e compartilham algumas características. Para ajudar os responsáveis a entender melhor as distinções, a especialista trouxe à tona alguns pontos específicos:
Dificuldades de comunicação
No caso do TEA, as dificuldades em comunicação vão além da fala. Elas incluem desafios na interação social e podem se manifestar através da dificuldade em manter relacionamentos, entender as normas sociais e interpretar contextos. Já no TDL, as dificuldades concentram-se na linguagem, com problemas na pronúncia, na escolha das palavras e na construção de frases, além de desafios na compreensão, mesmo de comandos simples. Essa frustração pode impactar a socialização, embora o prejuízo social em crianças com TDL geralmente seja menos severo que no caso do TEA.
Interação social
Crianças diagnosticadas com TEA frequentemente enfrentam limitações na interação social, optando por evitar o contato visual e tendo dificuldade em entender gestos e emoções. Por outro lado, crianças com TDL tendem a querer interagir, mas podem encontrar barreiras na comunicação verbal, afetando assim a qualidade das suas interações sociais.
Comportamentos repetitivos
Os comportamentos repetitivos e interesses restritos são características que compõem os critérios diagnósticos do TEA. Entretanto, esses comportamentos isoladamente não são suficientes para um diagnóstico, pois algumas crianças podem apresentá-los sem outros sinais que indicariam o autismo. Em contrapartida, os comportamentos repetitivos não fazem parte dos critérios para o diagnóstico de TDL.
Evolução do desenvolvimento
Tanto o TEA quanto o TDL impactam de forma significativa o desenvolvimento das crianças. No TEA, é comum observar comprometimentos em várias áreas, como linguagem, cognição e comportamento social. No caso do TDL, as dificuldades estão principalmente ligadas à fala e linguagem, geralmente com a cognição preservada, embora possa haver impactos no comportamento social devido a problemas de comunicação persistentes.
Condições médicas associadas
Ambas as condições podem estar relacionadas a outras condições médicas. Crianças com TEA podem ter problemas de saúde associados, como distúrbios gastrointestinais, dificuldades de sono e de atenção. Por sua vez, o TDL pode estar associado a dificuldades escolares e questões emocionais, como ansiedade social. Portanto, o diagnóstico e o tratamento adequados são essenciais.
Cabe destacar que a identificação precoce das condições é vital, garantindo que as crianças recebam o suporte necessário. O médico otorrinolaringologista especialista em Foniatria é um dos profissionais mais indicados a realizar esse diagnóstico, especialmente quando os sintomas iniciais envolvem dificuldades de fala e linguagem.
A avaliação para o diagnóstico do TDL pode incluir uma análise abrangente da história familiar, questionários específicos, exames físicos, avaliação auditiva e relatórios de profissionais educacionais. Além disso, uma observação clínica detalhada é realizada para verificar a fala, a linguagem e o desenvolvimento da comunicação.
O tratamento para o TDL foca no desenvolvimento das habilidades linguísticas, geralmente através de terapia fonoaudiológica. No caso do TEA, o tratamento precisa ser mais abrangente e normalmente envolve uma equipe multidisciplinar, incluindo terapia comportamental e ocupacional, suporte educacional e, quando necessário, uso de medicação para controlar sintomas específicos.