FOTO DE ARQUIVO: A glacióloga Andrea Fischer, da Academia Austríaca de Ciências, caminha em direção à entrada de uma cavidade glaciar natural da geleira Jamtalferner perto de Galtuer, Áustria, 15 de outubro de 2021. Cavernas de gelo gigantes surgiram em geleiras acelerando o processo de derretimento mais rápido do que o que é esperado quando o ar mais quente passa pela massa de gelo até o colapso. Foto tirada em 15 de outubro de 2021. REUTERS / Lisi Niesner
25 de outubro de 2021
Por Mark John
As negociações climáticas da COP26 em Glasgow, começando no próximo domingo, podem ser a melhor última chance do mundo de limitar o aquecimento global ao limite máximo de 1,5 a 2 graus Celsius estabelecido no Acordo de Paris de 2015.
As apostas para o planeta são enormes – entre elas o impacto sobre a subsistência econômica em todo o mundo e a estabilidade futura do sistema financeiro global.
Aqui estão 10 questões relacionadas às mudanças climáticas que os formuladores de políticas econômicas estão tentando responder:
1) QUANTO CUSTA AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS? De inundações e incêndios a conflitos e migrações: os modelos econômicos lutam contra os muitos efeitos colaterais possíveis do aquecimento global. A estimativa aproximada do FMI é que o aquecimento descontrolado reduziria 7% da produção mundial até 2100. O grupo de bancos centrais mundiais Network for Greening the Financial System (NFGS) o coloca ainda mais alto – 13%. Em pesquisa da Reuters com economistas, a mediana da perda de produção nesse cenário foi de 18%.
2) ONDE O IMPACTO SERÁ MAIS DIFÍCIL? – Claramente, o mundo em desenvolvimento. Muitos dos pobres do mundo vivem em regiões tropicais ou baixas, que já sofrem com as consequências das mudanças climáticas, como secas ou elevação do nível do mar. Além disso, seus países raramente dispõem de recursos para mitigar tais danos. O relatório do NFGS projeta perdas gerais de produção de mais de 15% para grande parte da Ásia e da África, aumentando para 20% nos países do Sahel.
3) O QUE ISSO SIGNIFICA PARA A SUBSISTÊNCIA INDIVIDUAL? A mudança climática levará até 132 milhões de pessoas à pobreza extrema até 2030, concluiu um documento do Banco Mundial no ano passado. Os fatores incluíram perda de renda agrícola; menor produtividade do trabalho ao ar livre; aumento dos preços dos alimentos; aumento da doença; e perdas econômicas devido a condições meteorológicas extremas.
4) QUANTO CUSTA PARA CONSERTÁ-LO? Os defensores da ação precoce dizem que quanto mais cedo você começar, melhor. O modelo de previsão macroeconômica NiGEM amplamente usado sugere que um início precoce ofereceria pequenos ganhos líquidos para a produção, graças aos grandes investimentos necessários em infraestrutura verde. O mesmo modelo alerta para perdas de produção de até 3% em cenários de transição de última hora.
5) QUEM PERDE EM UM MUNDO “LÍQUIDO ZERO” DE CARBONO? Principalmente, qualquer pessoa com exposição a combustível fóssil. Um relatório do think tank Carbon Tracker em setembro estimou que mais de US $ 1 trilhão em investimentos normais do setor de petróleo e gás não seriam mais viáveis em um mundo genuinamente de baixo carbono. Além disso, o FMI pediu o fim de todos os subsídios aos combustíveis fósseis – que ele calcula em US $ 5 trilhões por ano, se definido para incluir a subcarga para abastecimento e custos ambientais e de saúde.
6) QUANTO O CARBONO DEVE CUSTAR REALMENTE? Esquemas de impostos ou licenças que tentam precificar os danos causados pelas emissões criam incentivos para se tornarem verdes. Mas, até agora, apenas um quinto das emissões globais de carbono são cobertas por tais programas, fixando o preço do carbono em apenas US $ 3 a tonelada. Isso está bem abaixo dos US $ 75 / t que o FMI diz ser necessário para limitar o aquecimento global bem abaixo de 2 ° C. A pesquisa da Reuters com economistas recomendou US $ 100 / tonelada.
7) ISSO NÃO LEVARIA À INFLAÇÃO? – Qualquer coisa que leve em consideração o custo poluente dos combustíveis fósseis provavelmente levará a aumentos de preços em alguns setores – aviação, por exemplo. Isso poderia, por sua vez, levar ao que os bancos centrais definem como inflação – aumentos de preços de base ampla e duradoura em toda a economia. No entanto, a história mostra que esse não foi necessariamente o caso: os impostos sobre o carbono introduzidos no Canadá e na Europa empurraram os preços gerais para baixo porque reduziram a renda familiar e, portanto, a demanda do consumidor, mostrou um estudo recente. Também é verdade que não fazer nada pode levar à inflação: um documento do Banco Central Europeu alertou no ano passado sobre o aumento dos preços dos alimentos e das commodities devido a eventos climáticos extremos e a escassez de terras causada pela desertificação e aumento do nível do mar.
8) OS AVANÇOS VERDES ESTÃO REALMENTE DESACUPANDO AS EMISSÕES DO CRESCIMENTO ECONÔMICO? O crescimento genuinamente sustentável implica que a atividade econômica pode crescer conforme necessário, sem adicionar ainda mais emissões. Este é o Santo Graal da “dissociação absoluta”. Mas, até agora, qualquer dissociação tem sido amplamente relativa – no sentido de meramente atingir taxas mais altas de crescimento econômico do que ganhos nas emissões – ou alcançada pela transferência da produção suja de um território nacional para outro. E é por isso que, por enquanto, as emissões globais ainda estão aumentando.
9) QUEM FICA O BRUNT DA TRANSIÇÃO? A ideia de “Transição Justa” foi adotada por órgãos como a União Europeia para reconhecer que a transição para o zero líquido deve acontecer de maneira justa – por exemplo, garantindo que grupos de baixa renda não fiquem em situação pior. Em escala global, os países ricos, que desde suas revoluções industriais geraram a maior parte das emissões, prometeram ajudar na transição dos países em desenvolvimento por meio de US $ 100 bilhões de transferências anuais – uma promessa até agora não cumprida.
10) ISSO PODE PROVOCAR UMA CRISE FINANCEIRA? O sistema financeiro global precisa ser isolado contra os riscos físicos da própria mudança climática e das convulsões que provavelmente ocorrerão durante uma transição para o zero líquido. Os bancos centrais e os tesouros nacionais estão pedindo aos bancos e outros agentes financeiros que sejam claros sobre a exposição de seus livros a tais riscos. O BCE e outros reguladores deixaram claro que há um longo caminho a percorrer nisso.
(Edição de Giles Elgood)
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FOTO DE ARQUIVO: A glacióloga Andrea Fischer, da Academia Austríaca de Ciências, caminha em direção à entrada de uma cavidade glaciar natural da geleira Jamtalferner perto de Galtuer, Áustria, 15 de outubro de 2021. Cavernas de gelo gigantes surgiram em geleiras acelerando o processo de derretimento mais rápido do que o que é esperado quando o ar mais quente passa pela massa de gelo até o colapso. Foto tirada em 15 de outubro de 2021. REUTERS / Lisi Niesner
25 de outubro de 2021
Por Mark John
As negociações climáticas da COP26 em Glasgow, começando no próximo domingo, podem ser a melhor última chance do mundo de limitar o aquecimento global ao limite máximo de 1,5 a 2 graus Celsius estabelecido no Acordo de Paris de 2015.
As apostas para o planeta são enormes – entre elas o impacto sobre a subsistência econômica em todo o mundo e a estabilidade futura do sistema financeiro global.
Aqui estão 10 questões relacionadas às mudanças climáticas que os formuladores de políticas econômicas estão tentando responder:
1) QUANTO CUSTA AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS? De inundações e incêndios a conflitos e migrações: os modelos econômicos lutam contra os muitos efeitos colaterais possíveis do aquecimento global. A estimativa aproximada do FMI é que o aquecimento descontrolado reduziria 7% da produção mundial até 2100. O grupo de bancos centrais mundiais Network for Greening the Financial System (NFGS) o coloca ainda mais alto – 13%. Em pesquisa da Reuters com economistas, a mediana da perda de produção nesse cenário foi de 18%.
2) ONDE O IMPACTO SERÁ MAIS DIFÍCIL? – Claramente, o mundo em desenvolvimento. Muitos dos pobres do mundo vivem em regiões tropicais ou baixas, que já sofrem com as consequências das mudanças climáticas, como secas ou elevação do nível do mar. Além disso, seus países raramente dispõem de recursos para mitigar tais danos. O relatório do NFGS projeta perdas gerais de produção de mais de 15% para grande parte da Ásia e da África, aumentando para 20% nos países do Sahel.
3) O QUE ISSO SIGNIFICA PARA A SUBSISTÊNCIA INDIVIDUAL? A mudança climática levará até 132 milhões de pessoas à pobreza extrema até 2030, concluiu um documento do Banco Mundial no ano passado. Os fatores incluíram perda de renda agrícola; menor produtividade do trabalho ao ar livre; aumento dos preços dos alimentos; aumento da doença; e perdas econômicas devido a condições meteorológicas extremas.
4) QUANTO CUSTA PARA CONSERTÁ-LO? Os defensores da ação precoce dizem que quanto mais cedo você começar, melhor. O modelo de previsão macroeconômica NiGEM amplamente usado sugere que um início precoce ofereceria pequenos ganhos líquidos para a produção, graças aos grandes investimentos necessários em infraestrutura verde. O mesmo modelo alerta para perdas de produção de até 3% em cenários de transição de última hora.
5) QUEM PERDE EM UM MUNDO “LÍQUIDO ZERO” DE CARBONO? Principalmente, qualquer pessoa com exposição a combustível fóssil. Um relatório do think tank Carbon Tracker em setembro estimou que mais de US $ 1 trilhão em investimentos normais do setor de petróleo e gás não seriam mais viáveis em um mundo genuinamente de baixo carbono. Além disso, o FMI pediu o fim de todos os subsídios aos combustíveis fósseis – que ele calcula em US $ 5 trilhões por ano, se definido para incluir a subcarga para abastecimento e custos ambientais e de saúde.
6) QUANTO O CARBONO DEVE CUSTAR REALMENTE? Esquemas de impostos ou licenças que tentam precificar os danos causados pelas emissões criam incentivos para se tornarem verdes. Mas, até agora, apenas um quinto das emissões globais de carbono são cobertas por tais programas, fixando o preço do carbono em apenas US $ 3 a tonelada. Isso está bem abaixo dos US $ 75 / t que o FMI diz ser necessário para limitar o aquecimento global bem abaixo de 2 ° C. A pesquisa da Reuters com economistas recomendou US $ 100 / tonelada.
7) ISSO NÃO LEVARIA À INFLAÇÃO? – Qualquer coisa que leve em consideração o custo poluente dos combustíveis fósseis provavelmente levará a aumentos de preços em alguns setores – aviação, por exemplo. Isso poderia, por sua vez, levar ao que os bancos centrais definem como inflação – aumentos de preços de base ampla e duradoura em toda a economia. No entanto, a história mostra que esse não foi necessariamente o caso: os impostos sobre o carbono introduzidos no Canadá e na Europa empurraram os preços gerais para baixo porque reduziram a renda familiar e, portanto, a demanda do consumidor, mostrou um estudo recente. Também é verdade que não fazer nada pode levar à inflação: um documento do Banco Central Europeu alertou no ano passado sobre o aumento dos preços dos alimentos e das commodities devido a eventos climáticos extremos e a escassez de terras causada pela desertificação e aumento do nível do mar.
8) OS AVANÇOS VERDES ESTÃO REALMENTE DESACUPANDO AS EMISSÕES DO CRESCIMENTO ECONÔMICO? O crescimento genuinamente sustentável implica que a atividade econômica pode crescer conforme necessário, sem adicionar ainda mais emissões. Este é o Santo Graal da “dissociação absoluta”. Mas, até agora, qualquer dissociação tem sido amplamente relativa – no sentido de meramente atingir taxas mais altas de crescimento econômico do que ganhos nas emissões – ou alcançada pela transferência da produção suja de um território nacional para outro. E é por isso que, por enquanto, as emissões globais ainda estão aumentando.
9) QUEM FICA O BRUNT DA TRANSIÇÃO? A ideia de “Transição Justa” foi adotada por órgãos como a União Europeia para reconhecer que a transição para o zero líquido deve acontecer de maneira justa – por exemplo, garantindo que grupos de baixa renda não fiquem em situação pior. Em escala global, os países ricos, que desde suas revoluções industriais geraram a maior parte das emissões, prometeram ajudar na transição dos países em desenvolvimento por meio de US $ 100 bilhões de transferências anuais – uma promessa até agora não cumprida.
10) ISSO PODE PROVOCAR UMA CRISE FINANCEIRA? O sistema financeiro global precisa ser isolado contra os riscos físicos da própria mudança climática e das convulsões que provavelmente ocorrerão durante uma transição para o zero líquido. Os bancos centrais e os tesouros nacionais estão pedindo aos bancos e outros agentes financeiros que sejam claros sobre a exposição de seus livros a tais riscos. O BCE e outros reguladores deixaram claro que há um longo caminho a percorrer nisso.
(Edição de Giles Elgood)
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