FOTO DE ARQUIVO: O ex-presidente do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva fala no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo, Brasil, 29 de janeiro de 2022. REUTERS/Carla Carniel/Foto de arquivo
14 de fevereiro de 2022
By Marcela Ayres, Bernardo Caram and Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) – Os principais economistas dentro e ao redor do Partido dos Trabalhadores estão quase unidos em desprezo por uma nova lei que protege o banco central da influência presidencial – mas há uma importante voz de dissidência no partido: o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva .
Enquanto Lula se prepara para sua campanha presidencial este ano, ele evitou propositadamente nomear um porta-voz para propostas econômicas. Isso deixou claro que Lula sozinho é a voz decisiva em sua agenda econômica – e ele não mostrou escrúpulos em buscar pontos em comum com os centristas, mesmo quando isso rompe com o consenso de seu partido de esquerda.
Os primeiros sinais de moderação do favorito nas eleições deste ano deixaram alguns investidores otimistas em relação ao Brasil, ajudando a atrair quase US$ 10 bilhões em fluxos estrangeiros para os mercados locais e impulsionando a moeda e as ações do país.
Em entrevistas com meia dúzia de economistas e ex-ministros que assessoram Lula ou o think tank de política de seu partido, todos deixaram claro que não falaram em nome do ex-presidente.
Em nenhum lugar isso ficou mais claro do que em suas críticas a uma lei aprovada no ano passado para formalizar a autonomia do banco central, dando ao seu governador um mandato que abrange eleições presidenciais e removendo o papel do gabinete do governo.
Cinco dos seis economistas entrevistados pela Reuters menosprezaram a lei, alertando que ela amarrava as mãos do presidente na política macroeconômica. O próprio Lula criticou a ideia há um ano, mas desde então minimizou as preocupações.
“As pessoas têm problemas com o chamado banco central independente. Veja, este banco central tem que estar comprometido com o Brasil, não comigo”, disse Lula a jornalistas no mês passado, acrescentando que estava pronto para um diálogo construtivo com o atual presidente do banco central. “Vejo diferenças de opinião, mas nenhum obstáculo.”
Dois outros assessores políticos de Lula, falando sob condição de anonimato, descartaram qualquer tentativa de mudar a lei do banco central caso Lula vença as eleições de outubro, cujas pesquisas o mostram com uma margem saudável.
Em outros lugares, o consenso entre assessores de Lula e do Partido dos Trabalhadores se alinhou mais claramente com a agenda econômica que ele previu publicamente. Todos concordaram em afrouxar as regras fiscais para permitir a expansão dos investimentos públicos, programas sociais e iniciativas de crescimento ‘verde’, ao mesmo tempo em que descartam as principais privatizações propostas pelo atual presidente Jair Bolsonaro.
DÚVIDAS ‘DESENVOLVIMENTOS’
Ainda assim, os economistas de esquerda do Brasil parecem cautelosos em abrir mão do controle do governo sobre a política monetária.
Pedro Rossi, membro do think tank da Fundação Perseu Abramo (FPA) criado pelo Partido dos Trabalhadores e professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), berço da escola “desenvolvimentista” de política econômica estatal do PT, disse o banco central deve seguir o exemplo do presidente.
“As políticas monetária e fiscal não podem ir uma contra a outra”, argumentou Esther Dweck, professora de economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro e ex-secretária de Orçamento no mais recente governo do PT.
Luiz Gonzago Belluzzo, professor de economia da Unicamp que assessora Lula há décadas, argumentou que a política do governo deveria ser capaz de usar cerca de US$ 360 bilhões em reservas estrangeiras mantidas pelo banco central para estabilizar com mais força a taxa de câmbio do país.
Suas críticas ecoaram as do ex-ministro da Fazenda Guido Mantega, que se envolveu no que chamou de “guerras cambiais” enquanto servia tanto no governo Lula quanto na sua sucessora do PT, Dilma Rousseff, lutando contra o que considerava uma taxa de câmbio supervalorizada.
Mantega disse à Reuters que a abordagem do atual banco central ao mercado de câmbio do Brasil levou a uma depreciação excessiva, contribuindo para a inflação de dois dígitos no Brasil.
A lei que estabeleceu a autonomia do banco central no ano passado incluiu um mandato para estabilizar o crescimento econômico e incentivar o pleno emprego. Mas Eduardo Moreira, fundador da gestora de ativos Brasil Plural que assessorou Lula em economia, argumentou em entrevista que o banco central recém-independente não mudou sua política ou comunicação para refletir esse novo mandato.
Nelson Barbosa, professor da Fundação Getúlio Vargas que atuou como ministro da Fazenda de Dilma Rousseff, foi o único economista pesquisado que não viu nenhum problema com a nova independência formal do banco central, argumentando que ela teve pouco efeito na política econômica.
“Não acho que será um grande problema com o eventual retorno de Lula”, disse.
(Reportagem de Marcela Ayres, Bernardo Caram e Lisandra Paraguassu; Edição de Brad Haynes e Chizu Nomiyama)
FOTO DE ARQUIVO: O ex-presidente do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva fala no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo, Brasil, 29 de janeiro de 2022. REUTERS/Carla Carniel/Foto de arquivo
14 de fevereiro de 2022
By Marcela Ayres, Bernardo Caram and Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) – Os principais economistas dentro e ao redor do Partido dos Trabalhadores estão quase unidos em desprezo por uma nova lei que protege o banco central da influência presidencial – mas há uma importante voz de dissidência no partido: o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva .
Enquanto Lula se prepara para sua campanha presidencial este ano, ele evitou propositadamente nomear um porta-voz para propostas econômicas. Isso deixou claro que Lula sozinho é a voz decisiva em sua agenda econômica – e ele não mostrou escrúpulos em buscar pontos em comum com os centristas, mesmo quando isso rompe com o consenso de seu partido de esquerda.
Os primeiros sinais de moderação do favorito nas eleições deste ano deixaram alguns investidores otimistas em relação ao Brasil, ajudando a atrair quase US$ 10 bilhões em fluxos estrangeiros para os mercados locais e impulsionando a moeda e as ações do país.
Em entrevistas com meia dúzia de economistas e ex-ministros que assessoram Lula ou o think tank de política de seu partido, todos deixaram claro que não falaram em nome do ex-presidente.
Em nenhum lugar isso ficou mais claro do que em suas críticas a uma lei aprovada no ano passado para formalizar a autonomia do banco central, dando ao seu governador um mandato que abrange eleições presidenciais e removendo o papel do gabinete do governo.
Cinco dos seis economistas entrevistados pela Reuters menosprezaram a lei, alertando que ela amarrava as mãos do presidente na política macroeconômica. O próprio Lula criticou a ideia há um ano, mas desde então minimizou as preocupações.
“As pessoas têm problemas com o chamado banco central independente. Veja, este banco central tem que estar comprometido com o Brasil, não comigo”, disse Lula a jornalistas no mês passado, acrescentando que estava pronto para um diálogo construtivo com o atual presidente do banco central. “Vejo diferenças de opinião, mas nenhum obstáculo.”
Dois outros assessores políticos de Lula, falando sob condição de anonimato, descartaram qualquer tentativa de mudar a lei do banco central caso Lula vença as eleições de outubro, cujas pesquisas o mostram com uma margem saudável.
Em outros lugares, o consenso entre assessores de Lula e do Partido dos Trabalhadores se alinhou mais claramente com a agenda econômica que ele previu publicamente. Todos concordaram em afrouxar as regras fiscais para permitir a expansão dos investimentos públicos, programas sociais e iniciativas de crescimento ‘verde’, ao mesmo tempo em que descartam as principais privatizações propostas pelo atual presidente Jair Bolsonaro.
DÚVIDAS ‘DESENVOLVIMENTOS’
Ainda assim, os economistas de esquerda do Brasil parecem cautelosos em abrir mão do controle do governo sobre a política monetária.
Pedro Rossi, membro do think tank da Fundação Perseu Abramo (FPA) criado pelo Partido dos Trabalhadores e professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), berço da escola “desenvolvimentista” de política econômica estatal do PT, disse o banco central deve seguir o exemplo do presidente.
“As políticas monetária e fiscal não podem ir uma contra a outra”, argumentou Esther Dweck, professora de economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro e ex-secretária de Orçamento no mais recente governo do PT.
Luiz Gonzago Belluzzo, professor de economia da Unicamp que assessora Lula há décadas, argumentou que a política do governo deveria ser capaz de usar cerca de US$ 360 bilhões em reservas estrangeiras mantidas pelo banco central para estabilizar com mais força a taxa de câmbio do país.
Suas críticas ecoaram as do ex-ministro da Fazenda Guido Mantega, que se envolveu no que chamou de “guerras cambiais” enquanto servia tanto no governo Lula quanto na sua sucessora do PT, Dilma Rousseff, lutando contra o que considerava uma taxa de câmbio supervalorizada.
Mantega disse à Reuters que a abordagem do atual banco central ao mercado de câmbio do Brasil levou a uma depreciação excessiva, contribuindo para a inflação de dois dígitos no Brasil.
A lei que estabeleceu a autonomia do banco central no ano passado incluiu um mandato para estabilizar o crescimento econômico e incentivar o pleno emprego. Mas Eduardo Moreira, fundador da gestora de ativos Brasil Plural que assessorou Lula em economia, argumentou em entrevista que o banco central recém-independente não mudou sua política ou comunicação para refletir esse novo mandato.
Nelson Barbosa, professor da Fundação Getúlio Vargas que atuou como ministro da Fazenda de Dilma Rousseff, foi o único economista pesquisado que não viu nenhum problema com a nova independência formal do banco central, argumentando que ela teve pouco efeito na política econômica.
“Não acho que será um grande problema com o eventual retorno de Lula”, disse.
(Reportagem de Marcela Ayres, Bernardo Caram e Lisandra Paraguassu; Edição de Brad Haynes e Chizu Nomiyama)
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