Balançando um chocalho tradicional, a nova chefe de assuntos indígenas do Brasil recentemente percorreu todos os cantos da sede da agência – até mesmo sua sala de café – enquanto invocava a ajuda de ancestrais durante um ritual de limpeza.
O ritual teve um significado extra para Joenia Wapichana, a primeira mulher indígena do Brasil a comandar o órgão encarregado de proteger a floresta amazônica e seu povo. Assim que for empossada no mês que vem sob o recém-empossado presidente Luiz Inácio da Silva, Wapichana promete limpar a casa de uma agência que, segundo críticos, permitiu que os recursos da Amazônia fossem explorados às custas do meio ambiente.
Enquanto os Wapichana realizavam o ritual, indígenas e funcionários do governo entoavam entusiasticamente “Yoohoo! A Funai é nossa!” – uma referência ao órgão que ela vai comandar.
Ambientalistas, indígenas e eleitores simpatizantes de suas causas foram importantes para a vitória apertada de Lula sobre o ex-presidente Jair Bolsonaro. Agora Lula está tentando cumprir as promessas de campanha que fez a eles em uma ampla gama de questões, desde a expansão dos territórios indígenas até a interrupção do aumento do desmatamento ilegal.
Para cumprir esses objetivos, Lula está nomeando ambientalistas e indígenas de renome para cargos-chave na Funai e em outros órgãos que Bolsonaro havia preenchido com aliados do agronegócio e militares.
Nos dois mandatos anteriores de Lula como presidente, ele teve um histórico misto em questões ambientais e indígenas. E ele certamente enfrentará obstáculos de governadores pró-Bolsonaro que ainda controlam trechos da Amazônia. Mas especialistas dizem que Lula está dando os primeiros passos certos.
As autoridades federais já nomeadas por Lula para cargos-chave “têm prestígio nacional e internacional para reverter toda a destruição ambiental que sofremos nesses quatro anos de governo Bolsonaro”, disse George Porto Ferreira, analista do Ibama, órgão ambiental do Brasil. -Agência de execução.
Os apoiadores de Bolsonaro, por sua vez, temem que a promessa de Lula de proteções ambientais mais fortes prejudique a economia ao reduzir a quantidade de terras abertas para desenvolvimento e punir as pessoas por atividades que antes eram permitidas. Alguns apoiadores ligados ao agronegócio foram acusados de fornecer assistência financeira e logística aos manifestantes que no início deste mês invadiram o palácio presidencial do Brasil, o Congresso e o Supremo Tribunal Federal.
Quando Bolsonaro era presidente, ele difamou a Funai e outros órgãos responsáveis pela fiscalização ambiental. Isso permitiu que o desmatamento subisse para seu nível mais alto desde 2006, já que incorporadores e mineradores que tomaram terras de povos indígenas enfrentaram poucas consequências.
Entre 2019 e 2022, o número de multas aplicadas por atividades ilegais na Amazônia caiu 38% em comparação com os quatro anos anteriores, de acordo com uma análise de dados do governo brasileiro pelo Observatório do Clima, uma rede de grupos ambientais sem fins lucrativos.
Um dos sinais mais fortes das intenções de Lula de reverter essas tendências foi sua decisão de devolver Marina Silva à liderança do Ministério do Meio Ambiente do país. Silva ocupou o cargo anteriormente entre 2003 e 2008, período em que o desmatamento caiu 53%. Ex-seringueira do estado do Acre, Silva renunciou depois de entrar em conflito com líderes do governo e do agronegócio sobre políticas ambientais que ela considerava muito brandas.
Silva contrasta fortemente com o primeiro ministro do Meio Ambiente de Bolsonaro, Ricardo Salles, que nunca havia pisado na Amazônia quando assumiu o cargo em 2019 e renunciou dois anos depois, após alegações de que havia facilitado a exportação de madeira extraída ilegalmente.
Outras medidas que Lula tomou em apoio à Amazônia e seu povo incluem:
— Assinatura de decreto que rejuvenesceria o mais significativo esforço internacional de preservação da floresta tropical — o Fundo Amazônia. O fundo, que Bolsonaro esvaziou, recebeu mais de US$ 1,2 bilhão, principalmente da Noruega, para ajudar a pagar pelo desenvolvimento sustentável da Amazônia.
— Revogar o decreto de Bolsonaro que permitia a mineração em áreas indígenas e de proteção ambiental.
— Criação de um Ministério dos Povos Indígenas, que supervisionará tudo, desde os limites da terra até a educação. Essa pasta será comandada por Sônia Guajajara, a primeira mulher indígena do país em cargo tão alto no governo.
“Não será fácil superar 504 anos em apenas quatro anos. Mas estamos dispostos a usar este momento para promover uma retomada da força espiritual do Brasil”, disse Guajajara durante sua cerimônia de posse, que foi adiada pelos danos que manifestantes pró-Bolsonaro causaram ao palácio presidencial.
A floresta amazônica, que cobre uma área com o dobro do tamanho da Índia, atua como um amortecedor contra as mudanças climáticas, absorvendo grandes quantidades de dióxido de carbono. Mas Bolsonaro via a gestão da Amazônia como um assunto interno, fazendo com que a reputação global do Brasil fosse afetada. Lula está tentando desfazer esse estrago.
Durante a cúpula do clima da ONU no Egito em novembro, Lula prometeu acabar com todo o desmatamento até 2030 e anunciou a intenção de seu país de sediar a conferência do clima COP30 em 2025. O Brasil estava programado para sediar o evento em 2019, mas Bolsonaro cancelou em 2018 certo depois que ele foi eleito.
Embora Lula tenha metas ambientais ambiciosas, a luta para proteger a Amazônia enfrenta obstáculos complexos. Por exemplo, obter a cooperação das autoridades locais não será fácil.
Seis dos nove estados amazônicos são administrados por aliados de Bolsonaro. Esses incluem Rondônia, onde colonos descendentes de europeus controlam o poder local e desmantelaram a legislação ambiental por meio da assembléia estadual; e o Acre, onde a falta de oportunidades econômicas está levando os seringueiros, que há muito lutam para preservar a floresta tropical, a adotar a pecuária.
A Amazônia também é assolada há décadas pela mineração ilegal de ouro, que emprega dezenas de milhares de pessoas no Brasil e em outros países, como Peru e Venezuela. O garimpo ilegal causa a contaminação por mercúrio dos rios dos quais os povos indígenas dependem para pescar e beber.
“Sua principal causa é a ausência do estado”, diz Gustavo Geiser, perito criminal da Polícia Federal que trabalha na Amazônia há mais de 15 anos.
Uma área em que Lula tem mais controle é na designação de territórios indígenas, que são as regiões mais bem preservadas da Amazônia.
Lula está sob pressão para criar 13 novos territórios indígenas – um processo que havia parado no governo Bolsonaro, que manteve sua promessa de não conceder “mais um centímetro” de terra aos povos indígenas.
Um grande passo será ampliar o tamanho de Uneiuxi, parte de uma das regiões mais remotas e culturalmente diversas do mundo que abriga 23 povos. O processo de expansão dos limites de Uneiuxi começou há quatro décadas, e falta apenas uma assinatura presidencial, que aumentará seu tamanho em 37%, para 551.000 hectares (2.100 milhas quadradas).
“Lula já indicou que não teria nenhum problema em fazer isso”, disse Kleber Karipuna, assessor próximo de Guajajara.
Leia todas as últimas notícias de negócios aqui
(Esta história não foi editada pela equipe do News18 e foi publicada a partir de um feed de agência de notícias sindicalizado)
Discussão sobre isso post