Agentes federais brasileiros a bordo de três helicópteros desceram em um local de mineração ilegal na terça-feira na floresta amazônica.
Eles foram recebidos com tiros e os atiradores escaparam, deixando para trás um achado cada vez mais familiar para as autoridades: unidades de internet Starlink.
A Starlink, uma divisão da SpaceX de Elon Musk, possui quase 4.000 satélites de órbita baixa nos céus, conectando pessoas em cantos remotos da Amazônia e proporcionando uma vantagem crucial para as forças ucranianas no campo de batalha.
O sistema de internet leve e de alta velocidade também provou ser uma ferramenta nova e valiosa para os garimpeiros ilegais do Brasil, com serviço confiável para coordenação de logísticarecebendo aviso prévio de batidas policiais e fazendo pagamentos sem voar de volta para a cidade.
Agentes do grupo especial de inspeção da agência ambiental brasileira e do grupo de resposta rápida da polícia rodoviária federal encontraram na terça-feira um terminal Starlink funcionando próximo a um poço, disse um oficial que participou da operação à Associated Press.
Ele falou sob condição de anonimato devido a preocupações com sua segurança pessoal.
Também apreenderam mercúrio, ouro e munições, e destruíram combustível e outros equipamentos utilizados por garimpeiros na área conhecida como Ouro Mil, controlada pela mais temida organização criminosa do Brasil, conhecida como Primeiro Comando da Capital, segundo investigações federais.
Desde que assumiu o cargo este ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem procurado reprimir as violações ambientais, particularmente a mineração ilegal na terra Yanomami, o maior território indígena do Brasil.
Nos últimos anos, cerca de 20.000 garimpeiros contaminaram cursos de água vitais com mercúrio usado para separar o ouro.
Eles interromperam a vida indígena tradicional, trouxeram doenças e causaram fome generalizada.
O órgão ambiental, conhecido como Ibama, apreendeu sete terminais Starlink em terras Yanomami nas últimas cinco semanas, informou a assessoria de imprensa do órgão.
Os mineradores ilegais há muito usam a internet via satélite para se comunicar e coordenar, mas até agora isso exigia o envio de um técnico, geralmente de avião, para instalar uma pesada antena fixa que não pode ser carregada quando os locais de mineração são movidos ou invadidos.
E a conexão era lenta e instável, principalmente em dias de chuva.
O Starlink – que estreou no Brasil no ano passado e se espalhou rapidamente – resolveu esses problemas.
A instalação é do tipo faça você mesmo, o equipamento funciona mesmo em movimento, a velocidade é tão rápida quanto nas grandes cidades brasileiras e funciona durante as tempestades.
A Starlink há muito vê a Amazônia como uma oportunidade.
Isso foi ressaltado pela visita de Musk ao Brasil em maio passado, quando se encontrou com o então presidente Jair Bolsonaro.
“Super empolgado por estar no Brasil para o lançamento do Starlink para 19.000 escolas desconectadas em áreas rurais e monitoramento ambiental da Amazônia”, tuitou Musk na época.
Esse projeto com o governo, no entanto, não avançou.
A SpaceX e o ministério das comunicações não assinaram nenhum contrato, e apenas três terminais foram instalados nas escolas da Amazon por um período experimental de 12 meses, disse a assessoria de imprensa do ministério em resposta por e-mail a perguntas.
No entanto, Starlink decolou na região e começou a introduzir mudanças.
Em Atalaia do Norte, no extremo oeste da Amazônia brasileira, perto da fronteira com o Peru e a Colômbia, Rubeney de Castro Alves instalou o Starlink em seu hotel em dezembro.
Agora, ele pode fazer transferências bancárias e fazer videochamadas. Ele até começou a maratonar o Netflix.
“Tem tanta coisa nova para assistir que nem estou dormindo”, disse Alves, rindo.
Seu filho uma vez voou até Manaus, a capital do estado a 1.140 quilômetros (708 milhas) de distância, apenas para negociar com um grupo de turistas por meio de teleconferência.
Hoje, a internet em seu hotel de 11 quartos em Atalaia do Norte é mais confiável do que em Manaus, e ele comprou um segundo terminal para seu barco de turismo para permitir as comunicações em suas viagens de 10 dias, disse Alves.
Com alta demanda por internet, dezenas dos 21.000 moradores da cidade ribeirinha lotam o hotel de Alves todos os dias.
Sua varanda é ponto de encontro de adolescentes que passam horas jogando jogos online em seus celulares.
“Isso fez uma revolução em nossa cidade”, disse Alves.
A um mundo de distância, na Ucrânia, a Starlink rendeu vantagens no campo de batalha em sua guerra com a Rússia.
A Ucrânia recebeu cerca de 24.000 terminais Starlink que permitem a continuidade da internet nas regiões mais vulneráveis do sudeste, mesmo em meio aos contínuos bombardeios russos.
Nas grandes cidades ucranianas, as autoridades criaram “pontos de resiliência” que oferecem internet gratuita junto com bebidas quentes.
Os benefícios da conectividade foram imediatamente aparentes para os maus atores na Amazônia, disse Hugo Loss, coordenador de operações da agência ambiental do Brasil, à AP em entrevista por telefone.
“Essa tecnologia é extremamente rápida e realmente melhora a capacidade de gerenciar uma mina ilegal”, disse Loss.
“Você pode gerenciar centenas de locais de mineração sem nunca pisar em um.”
Outro funcionário da agência ambiental disse à AP que está apenas começando a expulsar os garimpeiros do território Yanomami e a disseminação do Starlink complicou essa missão.
O funcionário falou sob condição de anonimato devido a preocupações com a segurança pessoal.
Um revendedor não autorizado da Starlink em Boa Vista, porta de entrada para o território Yanomami, está comercializando as unidades em um grupo de WhatsApp para garimpeiros ilegais e prometendo entrega no mesmo dia.
O preço de um terminal é de US$ 1.600 – seis vezes o que Alves paga pelo serviço em seu pequeno hotel em Atalaia do Norte.
Outros estão vendendo os terminais Starlink em grupos do Facebook para mineradores ilegais, como um chamado “Fanatics for Prospecting”.
Como os infratores obtiveram acesso a um serviço de internet superior, as autoridades começaram a usar o próprio Starlink.
Agentes federais instalaram um terminal em um novo posto de controle no rio Uraricoera – um importante corredor de entrada de garimpeiros no território Yanomami.
O funcionário que informou a AP sobre o ataque de terça-feira usou o Starlink para enviar fotos e até arquivos de vídeo pesados de sua operação.
A agência ambiental do Brasil disse à AP por e-mail que, juntamente com outros órgãos federais, está estudando como bloquear o sinal da Starlink em áreas de mineração ilegal, chamando-o de crucial para interromper a atividade.
A AP enviou um e-mail a James Gleeson, diretor de comunicações da SpaceX, com perguntas sobre a presença da Starlink no Brasil e seu uso por mineradores ilegais em áreas remotas, mas não obteve resposta.
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