Uma briga crescente entre a França e a Alemanha, provocada por divergências sobre energia nuclear e motores de combustão, ameaçou se espalhar para uma reunião dos 27 líderes da União Européia na quinta-feira.
As tensões existentes entre os dois maiores players da União Europeia depois de Berlim incomodaram alguns de seus parceiros ao bloquear – no último minuto – um acordo histórico para proibir novas vendas de carros movidos a combustíveis fósseis a partir de 2035.
A proibição é a chave para o ambicioso plano de Bruxelas de se tornar uma economia “neutra para o clima” até 2050, com emissões líquidas zero de gases de efeito estufa.
Em uma ação sem precedentes neste mês, a Alemanha interveio depois que a proibição de carros já havia sido aprovada no processo legislativo da UE. Exigiu que Bruxelas desse garantias de que a lei permitiria a venda de carros novos com motores de combustão movidos a combustíveis sintéticos.
Enquanto o bloqueio de última hora frustrou muitas capitais da UE, Paris, por sua vez, já irritou Berlim ao insistir em dar à energia nuclear um papel de destaque nos planos europeus de produzir mais tecnologia verde na Europa.
Paris e Berlim têm tradicionalmente trabalhado juntas para impulsionar a agenda da UE.
Mas a divisão paira sobre a cúpula quando os líderes se reúnem para discutir o apoio da UE à Ucrânia e como aumentar a competitividade econômica diante das ameaças dos subsídios dos EUA e da China.
A Comissão Européia, braço executivo da UE, tem conversado com o Ministério dos Transportes da Alemanha para resolver a disputa sobre carros.
O chanceler alemão, Olaf Scholz, disse a repórteres antes da cúpula que as negociações da Alemanha com a comissão estavam “no caminho certo”.
“Agora é realmente apenas uma questão de encontrar o caminho certo para implementar essa promessa”, disse Scholz.
Assunto doméstico chega à UE
Embora nenhum acordo tenha sido alcançado, o primeiro-ministro holandês, Mark Rutte, disse esperar que a questão seja resolvida “nos próximos dias”.
Alguns líderes criticaram a decisão de 11 horas da Alemanha de pisar no freio em uma proposta que já havia superado todos os obstáculos no processo legislativo tradicional da UE.
“Toda a arquitetura da tomada de decisões desmoronaria se todos fizéssemos isso”, disse o primeiro-ministro letão Arturs Krisjanis Kariņs.
A Alemanha, que possui uma das maiores indústrias automobilísticas do mundo, bloqueou o acordo assinado no ano passado em um movimento visto como um produto da política doméstica.
Scholz lidera uma coalizão formada por seus social-democratas e rivais verdes e liberais.
“É, acima de tudo, um assunto alemão e um debate interno na política alemã que chegou à Europa”, reclamou um diplomata sênior da UE.
Os combustíveis sintéticos para os quais a Alemanha quer uma isenção ainda estão em desenvolvimento, produzidos com eletricidade de baixo carbono. A tecnologia não foi comprovada, mas os fabricantes alemães esperam que ela leve ao uso prolongado de motores de combustão.
Embora a Alemanha tenha liderado a revolta contra a proibição dos motores de combustão, ela não está sozinha. Formou uma pequena aliança com países como a Itália, outro grande fabricante de automóveis, e países do leste europeu, como Polônia e Hungria.
A França não evitou criticar a Alemanha.
No início deste mês, o ministro francês dos Transportes, Clement Beaune, acusou seu colega alemão de liderar “uma revolta” contra a proibição de novos carros com motor a gasolina ou diesel.
‘fraude’ nuclear
Diante desse cenário tenso, o presidente francês Emmanuel Macron se encontrará pessoalmente com Scholz na sexta-feira.
Outro pomo de discórdia que eles terão de enfrentar é a pressão da França para que a UE reconheça que a energia nuclear tem um papel a desempenhar no futuro verde da Europa.
Nuclear divide a UE, com países como Áustria e Luxemburgo fortemente contra, enquanto seus apoiadores incluem a República Tcheca e a Polônia.
“Não é seguro, não é rápido, não é barato e não é ecológico. Com bandeiras europeias, seria uma farsa”, disse o primeiro-ministro luxemburguês, Xavier Bettel, ao chegar.
Em 16 de março, a Comissão Europeia lançou novos planos para impulsionar a produção de tecnologia limpa, garantindo que as licenças sejam concedidas mais rapidamente e os projetos tenham melhor acesso ao financiamento.
A França, movida a energia nuclear, queria que a energia atômica fosse incluída na lista, mas não conseguiu atingir esse objetivo.
A nuclear, no entanto, constava das propostas anunciadas – mas se aplica apenas a reatores de quarta geração que ainda não existem, o que significa que a energia atômica obteria pouco das vantagens oferecidas.
Macron “se concentrará no papel da energia nuclear na descarbonização” durante a reunião dos líderes, disse uma fonte do governo francês.
Outro diplomata sênior da UE estava menos otimista sobre o que a cúpula alcançaria, dada a distância entre as capitais.
“Não esperamos um avanço espetacular em nenhuma questão específica”, disse o diplomata.
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(Esta história não foi editada pela equipe do News18 e foi publicada a partir de um feed de agência de notícias sindicalizado)
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