Os separatistas do Azerbaijão e da Arménia do território disputado de Nagorno-Karabakh realizaram as suas primeiras conversações de paz diretas na quinta-feira, depois de Baku ter alegado ter recuperado o controlo sobre a região separatista numa operação militar relâmpago.
Os separatistas concordaram em depor as armas na quarta-feira, como parte de um plano de cessar-fogo mediado pela Rússia que interrompeu a ofensiva de 24 horas do Azerbaijão para retomar terras no centro de décadas de conflito.
A presidência do Azerbaijão disse que a reunião de duas horas foi “realizada numa atmosfera construtiva e pacífica”, na presença de forças de manutenção da paz russas e que ambos os lados concordaram em mais conversações.
Os negociadores de Baku apresentaram planos para a “reintegração” da população arménia de Karabakh no Azerbaijão e comprometeram-se a fornecer combustível urgentemente necessário, suprimentos humanitários e cuidados médicos aos residentes.
Enquanto a reunião acontecia, tiros foram ouvidos no reduto separatista de Stepanakert na quinta-feira, apesar do acordo de trégua.
“Houve uma pequena troca de tiros fora da cidade”, disse à AFP Arutyun Gasparyan, empresário e pai de dois filhos. “Estamos sentados em casa e aguardando os resultados das negociações”.
As autoridades separatistas acusaram o Azerbaijão de violar o cessar-fogo, mas Baku negou a acusação.
O provedor de direitos humanos da região disse nas redes sociais que “as ruas de Stepanakert estão cheias de pessoas deslocadas, famintas, assustadas e na incerteza”.
– ‘Crime contra a humanidade’ –
Desde o colapso da União Soviética, a Arménia e o Azerbaijão travaram duas guerras pela pequena região montanhosa.
Os anos de conflito foram marcados por abusos de ambos os lados, e há preocupações quanto a uma nova crise de refugiados, uma vez que a população arménia de Karabakh teme ser forçada a sair.
A Arménia alertou na quinta-feira as Nações Unidas que o Azerbaijão estava a realizar uma “limpeza étnica” e a cometer um “crime contra a humanidade” ao recuperar o controlo.
O primeiro-ministro da Arménia, Nikol Pashinyan, disse que o seu país não prevê quaisquer evacuações em grande escala por enquanto, mas está a preparar planos de contingência.
O Conselho de Segurança da ONU deveria realizar uma sessão de emergência para discutir a situação em Karabakh após o ataque ao Azerbaijão que, segundo os separatistas, matou 200 pessoas.
O colapso da resistência separatista representa uma grande vitória para o Presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, na sua tentativa de trazer a região de maioria arménia de volta ao controlo de Baku.
Aliyev disse que o seu país restaurou a soberania sobre a região pela primeira vez em décadas. Baku insiste que agora quer ver a “reintegração pacífica” dos arménios de Karabakh.
Uma autoridade separatista disse que mais de 10 mil pessoas foram evacuadas das comunidades armênias em Nagorno-Karabakh.
– Putin conversa com Aliyev –
O presidente russo, Vladimir Putin, instou na quinta-feira Aliyev a garantir a segurança dos cerca de 120 mil armênios que vivem no território.
A Rússia – o tradicional mediador do poder regional – enviou forças de manutenção da paz para Nagorno-Karabakh em 2020 como parte de um acordo para pôr fim a uma guerra de seis semanas na qual o Azerbaijão recuperou o controlo parcial da região.
Sob a trégua desta semana, os separatistas disseram que concordaram em desmantelar totalmente o seu exército e que a Arménia retirasse quaisquer forças que tivesse na região.
O Ministério da Defesa do Azerbaijão disse que todas as armas deveriam ser entregues.
Após o colapso da União Soviética, os separatistas arménios tomaram a região – reconhecida internacionalmente como parte do Azerbaijão – no início da década de 1990.
Isso desencadeou uma guerra que deixou 30 mil pessoas mortas e deslocou centenas de milhares.
A última crise surge com Moscovo atolado na sua guerra contra a Ucrânia, e depois de os Estados Unidos e a União Europeia intensificarem as tentativas de encontrar uma paz duradoura entre a Arménia e o Azerbaijão.
O Kremlin disse que Aliyev pediu desculpas a Putin pela morte de um número não revelado de forças de paz russas durante os combates de quarta-feira.
O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan – que ajudou Baku a reforçar o seu poderio militar com drones de combate – expressou “apoio total” ao tradicional aliado Azerbaijão numa chamada com Aliyev.
– ‘O caminho não é fácil’ –
A aparente capitulação dos separatistas provocou júbilo entre os azerbaijanos, esperando que isto prenuncie agora uma vitória definitiva e o fim de décadas de conflito.
Mas aumenta a pressão interna sobre o primeiro-ministro arménio, Nikol Pashinyan, que tem enfrentado duras críticas a nível interno por ter feito concessões ao Azerbaijão desde que perdeu áreas de território em 2020.
Os confrontos eclodiram na quarta-feira na capital Yerevan, onde a tropa de choque guardava edifícios oficiais.
Pashinyan disse em discurso televisionado na quinta-feira que o caminho para a paz com o arquirrival Azerbaijão era difícil, mas ainda deve ser perseguido.
“Esse caminho não é fácil, passa por choques internos e externos e devemos persegui-lo”, afirmou.
Aliyev disse que os acontecimentos desta semana teriam um “impacto positivo” nas tentativas de negociar uma paz duradoura entre os dois vizinhos rivais do Cáucaso.
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse que a questão de a que país pertence Nagorno-Karabakh foi “decidida” e que existem condições para se chegar a uma solução duradoura.
Mas a desconfiança mútua continua altíssima e encontrar uma solução duradoura para uma disputa que divide a região há décadas é uma tarefa importante.
O Ministério da Defesa da Arménia disse na noite de quarta-feira que o Azerbaijão disparou contra as suas posições ao longo da fronteira entre os arqui-inimigos. Tais escaramuças fronteiriças são frequentes.
(Esta história não foi editada pela equipe do News18 e é publicada no feed de uma agência de notícias sindicalizada – AFP)
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