Os anúncios do Prémio Nobel da próxima semana celebrarão uma série de conquistas inovadoras, mas com os conflitos a assolar o mundo, os especialistas questionados sobre possíveis vencedores do Prémio da Paz estão a coçar a cabeça. O Prémio da Paz será anunciado em Oslo no dia 6 de outubro, o ponto alto da semana de anúncios que decorre de 2 a 9 de outubro.
Com a guerra na Ucrânia já no seu segundo ano, as tensões a aumentar entre as superpotências e uma série de golpes de estado africanos nos últimos anos, a situação global é decididamente sombria, dizem os especialistas. Num reflexo das fricções, o convite do embaixador russo para o banquete do prémio Nobel em Estocolmo, em Dezembro, foi recentemente rescindido na sequência de protestos furiosos.
“Em muitos aspectos, seria apropriado que o comitê não entregasse nenhum prêmio este ano”, disse à AFP o professor sueco de relações internacionais Peter Wallensteen. “Seria uma boa forma de assinalar a gravidade da situação mundial.” A última vez que isso aconteceu foi há meio século, em 1972, durante a Guerra do Vietname. Não encontrar nenhum candidato louvável seria hoje em dia considerado um fracasso.
“É muito difícil pensar que este possa ser o resultado”, disse à AFP o secretário do Comité Norueguês do Nobel, Olav Njolstad, “mas não direi que seja impossível”. “O mundo realmente precisa de algo que possa apontar numa boa direção. Há toda a necessidade de que o Prémio Nobel da Paz seja atribuído ainda este ano.” A lista de nomeações é secreta, mas sabe-se que 351 indivíduos ou organizações estão nela.
– Mulheres iranianas, Ucrânia ou clima? –
Então, quem poderia receber a aprovação? Alguns observadores do Nobel apontaram para as mulheres iranianas que protestavam desde a morte sob custódia, há um ano, de Mahsa Amini, detida por alegadamente violar o rigoroso código de vestimenta iraniano imposto às mulheres.
Os activistas Masih Alinejad e Narges Mohammadi ou a Aliança para a Democracia e a Liberdade no Irão são vistos como potenciais vencedores neste caso.
Outras possibilidades são as organizações que documentam crimes de guerra na Ucrânia, ou o Tribunal Penal Internacional, que poderá um dia ser chamado a julgá-los. Os activistas climáticos também foram mencionados, depois do Verão mais quente de que há registo e de um ano de condições meteorológicas extremas que ameaçam a humanidade. “Penso que as alterações climáticas são um foco muito bom para o Prémio da Paz deste ano”, disse Dan Smith, chefe do Instituto Internacional de Investigação para a Paz de Estocolmo, à AFP.
Ele destacou o movimento Sextas-feiras pelo Futuro, iniciado pela ativista sueca Greta Thunberg e pelo chefe tribal brasileiro Raoni Metuktire, que faz campanha contra o desmatamento e pelos direitos indígenas.
No ano passado, o prémio foi partilhado pelo grupo russo de direitos humanos Memorial, pelo Centro para as Liberdades Civis da Ucrânia e pelo defensor dos direitos humanos bielorrusso preso Ales Bialiatski, todos os três representando as nações no centro da guerra na Ucrânia às quais se opõem.
A Academia Sueca, entretanto, anunciará a sua escolha para o Prémio de Literatura em Estocolmo, no dia 5 de outubro.
Entre os nomes que circulam nos círculos literários estão a autora russa e crítica franca de Putin, Lyudmila Ulitskaya, o escritor de vanguarda chinês Can Xue, o autor britânico Salman Rushdie, o escritor caribenho-americano Jamaica Kincaid e o dramaturgo norueguês Jon Fosse.
– ‘Refletir os tempos’ –
A Academia Sueca muitas vezes colocou os holofotes em autores pouco conhecidos, embora no ano passado tenha ido para o ícone feminista francês Annie Ernaux. Ela foi apenas a 17ª mulher a vencer desde que o prêmio foi entregue pela primeira vez em 1901.
A Academia passou por grandes reformas desde o devastador escândalo #MeToo em 2018, prometendo um prémio de literatura mais global e com igualdade de género.
“Nos últimos anos, há mais consciência de que não se pode permanecer numa perspectiva eurocêntrica, que é preciso haver mais igualdade e que o prémio deve refletir os tempos”, disse à AFP Carin Franzen, professora de literatura da Universidade de Estocolmo.
Desde o escândalo, homenageou três mulheres – Ernaux, a poetisa norte-americana Louise Gluck e a polaca Olga Tokarczuk – e dois homens – o escritor austríaco Peter Handke e o escritor tanzaniano Abdulrazak Gurnah.
O Prêmio de Medicina abre a temporada do Nobel na segunda-feira, com pesquisas sobre a terapia com células T no combate ao câncer, o microbioma humano e a narcolepsia fazendo barulho.
O Prêmio de Física seguirá na terça-feira e o de Química na quarta.
O Prémio de Economia – o único Nobel não criado no testamento de 1895 do inventor sueco Alfred Nobel – encerra os anúncios no dia 9 de outubro.
As críticas sobre a falta de diversidade geográfica e de género também têm afectado os prémios científicos, algo que os comités de premiação insistem que estão a abordar.
(Esta história não foi editada pela equipe do News18 e é publicada no feed de uma agência de notícias sindicalizada – AFP)
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