Israel e o Hamas concordaram com um cessar-fogo de quatro dias que traria uma trégua temporária aos habitantes de Gaza que sofrem com bombardeios e ofensivas terrestres por mais de seis semanas e libertaria dezenas de reféns feitos pelo grupo militante palestino em 7 de outubro. O horário será anunciado nas próximas 24 horas e terá duração de quatro dias.
A trégua ocorre depois que o gabinete do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, aprovou o acordo após uma reunião que durou quase toda a noite, na qual ele disse aos ministros que esta era uma “decisão difícil, mas é uma decisão certa”.
O Hamas divulgou um comunicado saudando a “trégua humanitária”, que, segundo ele, também resultaria na libertação de 150 palestinos das prisões israelenses.
O que diz o acordo de trégua?
O cessar-fogo traria algum alívio para a população de Gaza, onde grandes partes dos territórios palestinianos foram arrasados por milhares de ataques aéreos e o território está sitiado, onde é permitida a entrada mínima de alimentos, água e combustível.
A trégua oferece aos residentes de Gaza a perspectiva de uma pausa desesperadamente desejada, ainda que breve, após quase sete semanas de guerra total, que já matou mais de 11 mil palestinianos.
Nos termos do acordo, pelo menos 50 reféns israelitas e estrangeiros seriam libertados – mulheres e crianças – em troca de uma “calmaria” de quatro dias nas operações militares. Para cada 10 reféns adicionais libertados, haveria um dia extra de trégua.
Fontes do Hamas e da Jihad Islâmica disseram que a trégua incluiria um cessar-fogo completo no terreno e uma pausa nas operações aéreas israelenses sobre o sul de Gaza.
De acordo com um relatório da AFP citando fontes do Hamas e da Jihad Islâmica, o acordo proposto também permitiria a entrada em Gaza de até 300 camiões de alimentos e ajuda médica.
No entanto, o gabinete de Netanyahu, num comunicado, sublinhou que a trégua não significou o fim da guerra.
Por que o Catar medeia tantos conflitos?
Embora vários países do Médio Oriente esperem desempenhar o papel de mediadores, incluindo o Egito e Omã, o Catar apresentou-se como o principal solucionador de problemas da região e detém um histórico de negociações bem-sucedidas no passado.
Além da guerra Israel-Hamas, tem desempenhado funções de mediação na Ucrânia, no Líbano, no Sudão, no Afeganistão e outros.
No caso do último conflito em Gaza, o Catar tem boas relações tanto com as nações ocidentais como com o Hamas e teve sucesso na libertação de dois reféns americanos no mês passado.
As negociações também posicionaram o Catar num delicado ato de equilíbrio internacional, uma vez que mantém uma relação com aqueles vistos como grupos militantes pelo Ocidente, ao mesmo tempo que tenta preservar os seus laços estreitos com os EUA.
Segundo reportagem do The Guardian, o Catar, ao ser um mediador, tenta se mostrar como essencial para a comunidade internacional e protegido de intervenções de vizinhos como a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos.
Houve oposição ao papel do Catar?
A direita americana e alguns em Israel opuseram-se ao papel do Catar e acusaram-no de abrigar terroristas.
O senador republicano da Carolina do Norte, Ted Budd, disse: “Durante semanas, o Ministério das Relações Exteriores do Catar afirmou estar ‘perto’ de negociar um acordo para a libertação de reféns detidos pelo Hamas – incluindo reféns americanos. Durante quanto tempo o Catar continuará a acolher terroristas com sangue americano nas mãos?”
Gershon Baskin, um negociador israelense de reféns que lidou diretamente com o Hamas, disse num recente seminário do Instituto do Médio Oriente: “O Catar é um Estado que apoia o terrorismo e precisa de ser chamado à ordem. Os americanos precisam dizer ao Catar: se não forçarem o Hamas a libertar os reféns, irão exilá-los do Catar.”
No entanto, o Catar afirma que acolhe os líderes políticos do Hamas não por simpatia ideológica, mas porque os EUA o solicitaram.
Qual é a posição do Catar no conflito?
Não há dúvida de que as simpatias do Catar estão com os palestinos. O Ministério dos Negócios Estrangeiros do Catar culpou “unicamente” Israel pelo ataque do Hamas e não condenou nem uma vez a brutalidade.
Em 2012, enquanto a guerra se alastrava na Síria e a liderança do Hamas se opunha ao governo sírio, Doha forneceu-lhe abrigo. Os catarianos disseram que a decisão foi tomada em coordenação com os Estados Unidos e com a bênção do ex-presidente dos EUA, Barack Obama.
O Catar, que acolhe o gabinete político do Hamas há mais de 10 anos, também é respeitado pelos Estados Unidos, principal aliado de Israel. Também fornece milhões de dólares em ajuda externa, paga os salários dos funcionários públicos na Faixa de Gaza, fornece transferências diretas de dinheiro às famílias pobres e oferece ajuda humanitária aos palestinos em Gaza.
Os EUA consideram o Catar como um importante aliado não pertencente à OTAN e Doha alargou o comércio de defesa e a cooperação em segurança com a América. É também o lar da maior base militar dos EUA na região.
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