O chefe do MI6, Richard Moore, agradeceu à televisão estatal russa por promover um discurso no qual instou os russos a se distanciarem do presidente Vladimir Putin.
Moore fez o discurso na Embaixada Britânica em Praga, em Julho, apelando aos russos para colaborarem com o serviço de inteligência do Reino Unido. A assistência inesperada veio do Canal 1 em Setembro, onde a apresentadora Maria Butina, uma antiga espiã russa, incluiu um clip do discurso de Moore, aparentemente rejeitando a sugestão.
Moore, agradecido pela promoção inesperada, declarou na segunda-feira: “Na verdade, estávamos intrigados sobre como levar minha mensagem ao nosso público-alvo na Rússia – nunca pensamos que a TV estatal russa iria intervir para ajudar. Obrigado, pessoal.”
Mark Galeotti, especialista russo em serviços de segurança da University College London, considerou a tradução e transmissão dos comentários de Moore uma “gafe muito séria”.
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O público de Butina, provavelmente indivíduos de interesse para a inteligência britânica, levanta questões sobre o potencial sucesso da mensagem. Galeotti observou que o trabalho de inteligência envolve expulsar “migalhas” e esperar por uma resposta.
Acusando Moore de empregar “métodos de recrutamento baratos”, Butina questionou a seriedade de pedir aos russos que “acreditem nesta provocação descarada”. Butina, um antigo agente secreto russo, passou mais de um ano na prisão dos EUA por tentar infiltrar-se em grupos políticos conservadores dos EUA.
Butina expressou choque com o interesse do chefe do MI6 em seu programa, rotulando a posição de Moore como “desesperada” e “fraca”. Ela questionou a competência do MI6 em traduzir conteúdo e entregar mensagens ao público-alvo sem a assistência da TV russa.
A cobertura limitada dos comentários de Moore na mídia russa da época sugere possíveis instruções do Kremlin para evitar a cobertura de seus comentários. Galeotti sugeriu que Butina e sua equipe poderiam ter incluído os comentários inadvertidamente, possivelmente sem saber das instruções.
As autoridades ocidentais destacam uma mudança nos motivos dos russos partilharem informações com o Ocidente desde a invasão da Ucrânia pela Rússia em Fevereiro de 2022. A raiva contra o governo do Presidente Putin impulsiona cada vez mais os desertores, em contraste com os motivos financeiros anteriores.
No seu discurso de Julho, Moore assegurou que a “porta do MI6 está sempre aberta” e enfatizou a discrição e o profissionalismo no tratamento das ofertas de ajuda. Apesar dos riscos potenciais para aqueles que contemplam a espionagem, Moore prometeu que os segredos estariam seguros e que a colaboração contribuiria para acabar com o derramamento de sangue.
A Rússia tem um histórico de ex-agentes apresentando programas de televisão. Anna Chapman, uma ex-agente secreta nos EUA, e Andrei Lugovoi, procurado no Reino Unido por envolvimento na morte de Alexander Litvinenko, ambos tinham seus próprios programas de TV na Rússia.
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