Uma pesquisa secreta – que nunca deveria ter sido divulgada e foi encomendada por Les Républicains (equivalente francês dos conservadores) – concluiu que o partido nacionalista Rassemblement National (RN) de Marine Le Pen poderia obter uma maioria absoluta no Parlamento francês se uma eleição fosse realizada agora.
A pesquisa revelou que o centro-direita poderia passar de 62 deputados para cerca de 53, enquanto o RN conquistaria 278 assentos, um salto surpreendente dos 88 assentos atuais, com uma maioria absoluta à vista. O partido do presidente Emmanuel Macron também cairia de cerca de 246 deputados para 135.
Em resumo, os eleitores estariam abandonando os quase conservadores em favor do partido real, tal como parece estar acontecendo no Reino Unido, à medida que o Brexit Party consome uma percentagem cada vez menor de votos do Partido Conservador.
No entanto, enquanto na França a Esquerda ficaria enfraquecida – a Nouvelle Union Populaire Écologique et Sociale (Nupes) cairia de 131 para 68 assentos – graças ao atual sistema de representação, o Partido Trabalhista agora tem uma vantagem desproporcional, enquanto o surpreendente salto do Brexit Party nas pesquisas está longe de ser alcançado, sendo menos provável que se traduza em deputados do que em países com um sistema de representação proporcional mais justo.
A natureza ultrapassada do sistema britânico para a eleição de deputados foi ilustrada recentemente quando o partido nacionalista Chega aumentou sua parcela de votos nas recentes eleições gerais em Portugal, um resultado que se traduziu em um número proporcional de deputados.
No Reino Unido, por outro lado, o sucesso do Brexit Party está sendo prejudicado pelo sistema de votação do país, uma vez que não acumula votos suficientes em círculos eleitorais individuais para se traduzirem em assentos no Parlamento. Na verdade, muitos eleitores simpáticos à reforma no Reino Unido provavelmente estão desanimados com o risco de “dividir o voto da direita” e, portanto, optam por votar nos conservadores.
Com um governo conservador como este, quem precisa do Partido Trabalhista, não é mesmo?
Na França, uma vitória do RN seria um terremoto político, criando a possibilidade de uma vitória presidencial para Marine Le Pen e desencadeando um terremoto ainda maior na União Europeia.
O RN já está pronto para obter grandes ganhos nas próximas eleições para o Parlamento Europeu neste verão, onde espera-se que os partidos nacionalistas e eurocéticos tenham um bom desempenho em todo o continente.
Na verdade, o fato de o Reino Unido estar prestes a eleger um governo de esquerda com uma ampla maioria vai na contramão da tendência da maioria dos países ocidentais, especialmente se Donald Trump vencer as eleições de novembro nos EUA.
As eleições francesas eram a última coisa que Bruxelas precisava ouvir. Até mesmo seu defensor na Polônia, Donald Tusk, segue as políticas anti-imigração do antigo governo nacionalista, enquanto na Hungria, Viktor Orban continua desafiando a UE.
Se a pesquisa na França estiver, mesmo que remotamente, correta, a UE pode enfrentar uma crise existencial muito maior do que qualquer outra provocada pela Hungria, Polônia ou por governos nacionalistas conservadores em outros países do bloco.
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