A presença cada vez maior de pombos nas praças públicas de João Pinheiro voltou a ser pauta nas redes sociais depois que Paulo, relojoeiro estabelecido ao lado da Escola Estadual Presidente Olegário, construiu um bebedouro na Praça Major Mendonça. A conduta do homem em alimentar os pombos vem sendo questionada há meses. Procurando entender a história sob a ótica de Paulo, a reportagem do JP Agora o procurou para uma entrevista. Confira, a seguir, o que o relojoeiro tem a dizer sobre o assunto.
No início de fevereiro, o JP Agora ouviu o relato da Engenheira Ambiental Karen Corrêa, que alertou sobre o perigo trazido pelos pombos, principalmente para as crianças da Escola Estadual Presidente Olegário. Na ocasião, o assunto já era bastante comentado nas redes sociais e a maioria dos pinheirenses se posicionaram contra a atitude do relojoeiro Paulo em alimentar as aves. Então, depois que Paulo construiu um bebedouro em alvenaria na praça, o JP Agora o procurou para uma entrevista.
O encontro com a reportagem aconteceu na própria Praça Major Mendonça, onde Paulo é visto todos os dias alimentando os pombos e vários cachorros de rua que se aglomeram no local. O pinheirense, de 53 anos, não poupou papas na língua ao se dirigir àqueles que são contra sua opinião e, principalmente, contra sua atitude em alimentar as aves. A primeira observação feita por ele foi questionar se aqueles que o criticam estão isentos de serem vetores de doenças.
“Agora me diz, eles não são vetores de doenças também? Eles não transmitem doenças para nós também? Podem transmitir a lepra, AIDS, hepatite, hanseníase, a gripe, muitas doenças contagiosas, eles não podem transmitir para nós? Será que eles ‘vai’ querer se sacrificar quando pegar essas doenças? O que eu faço pelos bichinhos é por amor a eles e a Deus. O que essas pessoas faz é por ódio aos bichinhos e a mim. Quem faz por amor está servindo a quem? E quem faz por ódio serve a quem? Certamente não é ao meu Deus” iniciou Paulo, visivelmente insatisfeito com os questionamentos que vem recebendo da população pinheirense.
Apesar de questionável, o amor de Paulo aos animais é visível. Ele chama os pombos de “pombinhos” e, do seu depoimento, se denota que ele não está muito preocupado em se colocar contra todas as pessoas que o criticam porque, no seu entendimento, sua atitude é legal e não contraria nenhuma lei.
“Essa água aqui não é só dos pombinhos, é dos cachorrinhos, é dos gatinhos a noite, é do canarinho amarelinho, é do pardal, é da fogo apagou, é do bem te vi, é do sabiá que mora aqui na praça, é muitos bichinhos que bebem água aqui e essas pessoas tem o prazer de tirar a água desses bichinhos e agora essa pessoa que faz isso é pessoa de Deus? Me diz. Eu quero que a população de João Pinheiro coloca na balança e olha se essas pessoas quiserem tirar a água e a comida dos bichinhos, se isso é pessoa de Deus” disse Paulo à reportagem do JP Agora.
Paulo segue defendendo sua atitude apontando que é comerciante no mesmo endereço há mais de 20 anos e que sempre tratou dos animais. Neste ponto da entrevista, o relojoeiro engrossou ainda mais seu discurso contra aqueles que criticam suas atitudes.
“Sempre tratei dos animais. Eu trato não é só dos pombinhos, eu trato de todos os passarinhos, cachorrinhos, gatinhos, trato de todos os animais. Eu estou dentro da lei porque a lei diz que não se pode maltratar animais, é crime e dá cadeia. Eu não maltrato, eu cuido. Agora essas pessoas são pessoas desinformadas, despreparadas, eles disse que a sujeira da praça era dos pombinhos, olha onde eles comem se tem sujeira, as andorinhas foram embora. Olha lá agora se a praça está suja. As pessoas que fez toda essa mentira são pessoas falsas, mentirosas” disse o relojoeiro.
A respeito das doenças comprovadamente transmitidas pelos pombos, Paulo disse que dá remédios misturados à canjiquinha de tempos em tempos para cuidar da saúde dos “pombinhos”. Ele disse, ainda, que as doenças também são transmitidas pelo frango.
“As doenças dos pombinhos, muita gente não sabe, é a mesma doença do frango que comemos todos os dias. Só que o frango toma nove vacina antes dele nascer dentro do ovo ainda. Muita gente não sabe, essa canjiquinha eu coloco vermífugo a cada 40, 50, 60 dias. São vermifugados tanto o pombinho, o canarinho, o fogo apagou, todos os passarinhos que comem aqui tomam vermífugo a cada 40, 50, 60 dias para não terem doenças. Agora, se você tiver bem alimentado, você não vai ter doença, você vai ter imunidade. Mas se você tiver sem alimento, você vai perder imunidade, ai sim você vai adoecer. O pombinho bem alimentado e bem tratado ele não traz doenças. Essas pessoas trazem mais doença para nós do que o pombinho, que tem a mesma doença do frango. As andorinhas chegaram e os pombinhos pagaram o pato. Essas pessoas fazem isso por ódio e eu faço por amor” finalizou Paulo.
Para a reportagem do JP Agora, ficou claro que Paulo não vai parar de alimentar os pombos, já que, para ele, sua atitude não é errada e não contraria nenhuma lei. A despeito disso, a redação do JP Agora realizou uma pesquisa científica que não deixa dúvidas de que os pombos são, sim, considerados praga urbana, endossando ainda mais a entrevista concedida pela Engenheira Ambiental Karen Corrêa no início de fevereiro. Confira, a seguir, um breve resumo sobre o tema.
Pombos são considerados aves sinatrópicas e o próprio Ibama recomenda o manejo delas
Após breve pesquisa na internet, a redação do JP Agora conseguiu encontrar inúmeros estudos, artigos científicos, monografias e até mesmo cartilhas recomendativas de prefeituras de todo o Brasil apontando que os pombos devem ser considerados como praga urbana. Isto porque, bem resumidamente, a espécie se adaptou muito bem ao ambiente urbano em razão do fácil acesso a alimentos e pela falta de predadores naturais.
Assim, em razão do risco que podem oferecer à uma sociedade, o que não faltam são pesquisas que apontam as doenças que são transmitidas pelas fezes do animal, que é capaz de comer de tudo que vê pela frente, o que, em uma cidade, pode significar restos de lixos de toda ordem. A forma mais comum de ser contaminado, nestes casos, é através das vias respiratórias, com a inalação das fezes secas. Outra maneira é por meio dos piolhos, comumente encontrados nestas aves.
Neste sentido, o JP Agora encontrou um livro digital publicado pelo Governo do Estado do Rio Grande do Sul em 2018 que apresenta, de forma acadêmica, justificada, citando fontes e autores consolidados sobre o tema, os riscos que os pombos podem apresentar e, ainda, traz as formas como as aves podem ser manejadas a fim de evitar a proliferação das doenças transmitidas por elas.
Na obra, os autores apontam que as fezes secas dos animais, quando já não podem ser vistas a olho nu, representam o risco maior à população porque ataca as vias aéreas, formando uma fina poeira que transporta fungos perigosos, como o Histoplasma capsulatum e Cryptococcus neoformans que causam doenças como a histoplasmose e criptococose.
O guia destaca, pormenorizadamente, todas as doenças que são atribuídas aos pombos e a íntegra do livro pode ser acessada aqui. A respeito do manejo das aves, todos os sites visitados pela redação do site apontam que é proibido matá-las. Empresas especializadas realizam os procedimentos de modo a evitar problemas, os quais se iniciam com a retirada dos ninhos e, principalmente, com a exclusão de todas as fontes de alimento possíveis do local, o que deve acontecer de forma gradativa no caso de serem alimentados por humanos.
A questão da alimentação das aves é o ponto central para a reprodução desenfreada da espécie, já que as aves aprendem o local onde são alimentadas e fixam moradia nas redondezas. Assim, sem que cesse a alimentação artificial delas, elas nunca vão embora, como é o caso de João Pinheiro.
A atitude de Paulo em alimentar as aves da praça, apesar de justificável sob a ótica de proteção aos animais, não é saudável para a população pinheirense e muito menos para as próprias aves. Todas as espécies citadas por ele como “beneficiárias” da ração e da água que ele coloca verdadeiramente desaprendem a viver em seu habitat natural, desaprendem a comer sozinhas e deixam, inclusive, de cumprir com seus vários papéis ambientais.
O JP Agora esclarece, por fim, que não conta com nenhum especialista no assunto em seu quadro de colaboradores mas, mesmo assim, conseguiu levantar todo esse material ora disponibilizado a seus leitores com uma rápida pesquisa de 30 minutos. A redação do site, assim como toda a população de João Pinheiro, aguarda por uma atitude das autoridades locais a respeito do tema.
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