Transferidos entre pontos turísticos, posando para fotos em belas praias e dançando desajeitadamente ao som de merengue: os turistas russos encontraram um destino de férias amigável em uma ilha venezuelana longe da pátria mãe e de sua guerra com a Ucrânia.
A Isla de Margarita é uma joia tropical com praias de areia branca e águas azul-turquesa. No entanto, anos de turbulência política e econômica na Venezuela assustaram a maioria dos turistas, com as nações ocidentais alertando severamente os cidadãos para não viajarem para lá.
Para milhares de russos que procuram férias ensolaradas, mas enfrentam restrições de visto e voos por causa da guerra na Ucrânia, é uma combinação perfeita no paraíso caribenho.
“Não há muitos destinos disponíveis para a Rússia no momento. É difícil encontrar lugares para ir de férias”, diz Ekaterina Dolgova, 39, que vende suprimentos médicos.
De um grupo de turistas russos em recente visita guiada à ilha, ela é a única disposta a dizer alguma coisa sobre o conflito brutal em que os ucranianos estão sob constante ataque russo e suportando temperaturas congelantes, muitos sem água ou eletricidade, milhares de a milhas de distância.
“Uma guerra é de longe a pior coisa”, disse ela brevemente. Alguns temem repercussões se falarem, enquanto outros apoiam os esforços de guerra do presidente Vladimir Putin.
Tradução russa
Nos últimos dois meses, cerca de 3.000 turistas russos aproveitaram um novo voo direto entre Moscou e a Isla de Margarita com a Norwind Airlines da Rússia.
A rota foi reaberta em 2 de outubro, após uma interrupção de sete meses devido à guerra, e foi modificada para evitar sobrevoar espaços aéreos restritos por sanções.
A 14 horas de voo de Moscou, a Isla de Margarita também é vista como uma opção acessível. O turista Sergei Katch disse que pagou US$ 3.500 por um pacote de 12 dias para a ilha.
Uma placa com os dizeres “bem-vindo” em russo cumprimenta os turistas no aeroporto internacional da ilha. Tudo é organizado, desde passeios pela ilha até serviços de tradução em russo.
Os viajantes não saem do hotel sem guia.
Dolgova disse que decidiu viajar para a Venezuela depois de descartar o Egito, que já havia visitado duas vezes, e onde ela diz que o tratamento dos russos mudou desde o início da guerra.
‘Arma secreta’
O presidente Nicolás Maduro vê no turismo uma arma secreta para revitalizar uma economia que mostra tímidos sinais de recuperação após anos de hiperinflação e moeda em queda livre.
Ele fechou acordo com a Rússia, um forte aliado, para receber cerca de 100 mil turistas até 31 de dezembro.
Este aumento do turismo teve um impacto direto na economia da ilha, disse Viviana Vethencourt, presidente da Câmara de Turismo do estado de Nueva Esparta, que abrange a Isla de Margarita e outras duas ilhas.
Ela diz que não há estatísticas, mas as melhorias estão aparecendo aos poucos.
Para a vendedora Nacarid, que vende bijuterias e moda praia, “as coisas vendem, mas não como antes”, quando a ilha fervilhava de visitantes da Europa e dos Estados Unidos.
“Eles são pechinchas”, ela reclama, enquanto um dos turistas russos a convence a reduzir o preço de um item pela metade.
Dimitri Bobkov, 31, professor universitário, tenta dançar ao som de merengue tocando no rádio enquanto o grupo de turistas para em um posto de gasolina. Ele visitou o túmulo do ícone socialista Hugo Chávez e jogou futebol com crianças em uma favela.
“Aqui, gosto das pessoas, da comida, da natureza, do clima”, disse Bobkov. “Provavelmente vou me lembrar disso pelo resto da minha vida.”
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