Oficiais do governo armados com os ministérios da Justiça, Indígena e Meio Ambiente do Brasil começaram na quarta-feira a pressionar milhares de garimpeiros ilegais para fora do território indígena Yanomami, citando contaminação generalizada do rio, fome e doenças que eles trouxeram para um dos grupos mais isolados do mundo.
Pessoas envolvidas em dragagem ilegal de ouro fugiram do território a pé. A operação pode levar meses. Acredita-se que haja cerca de 20.000 pessoas envolvidas na atividade, muitas vezes usando mercúrio tóxico para separar o ouro. Estima-se que 30.000 Yanomami vivem no maior território indígena do Brasil, que cobre uma área aproximadamente do tamanho de Portugal e se estende pelos estados de Roraima e Amazonas, no canto noroeste da Amazônia brasileira.
As autoridades – o Ibama, órgão ambiental brasileiro, com apoio da Fundação Nacional dos Povos Indígenas e da Guarda Nacional – encontraram um avião, uma escavadeira, alojamentos e hangares improvisados e os destruíram – conforme permitido por lei. Foram apreendidos dois canhões e três barcos com 5.000 litros (1.320 galões) de combustível. Eles também descobriram um helicóptero escondido na floresta e o incendiaram.
O Ibama estabeleceu um posto de controle próximo a uma aldeia Yanomami no rio Uraricoera para interromper a cadeia de abastecimento dos garimpeiros de lá. Os agentes apreenderam os barcos de 12 metros (39 pés), carregados com uma tonelada de alimentos, freezers, geradores e antenas de internet. A carga agora vai abastecer os agentes federais. Não será permitido que mais barcos que transportem combustível e equipamentos ultrapassem o bloqueio.
A grande quantidade de suprimentos encalhados rio acima pode indicar que alguns dos garimpeiros estavam ignorando a promessa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de expulsá-los após anos de negligência de seu antecessor, Bolsonaro, que tentou legalizar a atividade.
Outros garimpeiros, porém, acharam melhor voltar para a cidade. Na terça-feira, a Associated Press visitou um porto improvisado ao longo do rio Uraricoera, acessível apenas por três horas de carro em uma estrada de terra. Dezenas de garimpeiros chegaram ao longo do dia, alguns deles depois de caminhar dias pela floresta, a caminho de Boa Vista, capital do estado.
Um deles, João Batista Costa, de 61 anos, disse a repórteres que os Yanomami estão morrendo de fome e que os recentes carregamentos emergenciais de alimentos não têm sido suficientes.
O governo federal declarou emergência de saúde pública para o povo Yanomami, que sofre de desnutrição e doenças como a malária em consequência do garimpo ilegal.
Um relatório divulgado ontem pelo Ministério da Saúde constatou que garimpeiros invadiram quatro clínicas dentro do território Yanomami, deixando-as inoperantes. Na cidade de Boa Vista, onde indígenas famintos e doentes foram transferidos para um centro médico temporário, há 700 Yanomami, mais de três vezes sua capacidade.
Os garimpeiros, que vêm de regiões carentes, como o Maranhão, no Nordeste do Brasil, costumam atravessar a floresta de chinelos, levando apenas alimentos e pertences pessoais nas mochilas. Eles dormem em redes nos acampamentos.
Mas sua mineração depende de uma logística sofisticada para enganar as autoridades e é apoiada por investidores de fora da floresta. Tais táticas incluem: distribuição ilícita de combustível na periferia de terras indígenas; pistas de pouso escavadas na selva para transporte de mineiros e suprimentos; aviões leves com numeração de cauda modificada, registrados em empresas de fachada; helicópteros operando entre locais de mineração nas reservas e redes de comunicação clandestinas.
“Esta operação não chegou tão cedo”, disse Sarah Shenker, chefe da organização sem fins lucrativos Survival International no Brasil, em um comunicado. “É absolutamente vital que as autoridades tirem os mineiros e os mantenham afastados. Eles arruinaram a vida dos Yanomami por muito tempo e causaram miséria e destruição incalculáveis. Mesmo que todos sejam removidos e possam ser mantidos fora, levará anos para que os Yanomami e sua floresta se recuperem.”
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