FOTO DO ARQUIVO: O logotipo da fabricante de aviões brasileira Embraer SA é visto na sede da empresa em São José dos Campos, Brasil, 28 de fevereiro de 2018. REUTERS / Roosevelt Cassio / Foto do arquivo
22 de dezembro de 2021
Por Tatiana Bautzer e Carolina Mandl
SÃO PAULO (Reuters) – A farmacêutica Blau Farmaceutica SA, que listou suas ações na bolsa de valores B3 do Brasil em abril, abriu seu primeiro banco de plasma nos Estados Unidos e pode considerar a mudança de sua sede e listagem de ações para os Estados Unidos.
A empresa, que atualmente está sediada no estado de São Paulo e, até agora, tem se concentrado predominantemente em negócios na América Latina, pretende abrir 10 plasma backs nos Estados Unidos, além de seu novo site na Flórida. Assim que a expansão for concluída, a Blau pode considerar a mudança de sua sede para os Estados Unidos.
Em entrevista à Reuters, o diretor financeiro da Blau, Douglas Rodrigues, disse que os investidores internacionais, ao contrário dos brasileiros, estão acostumados com os modelos de negócios das empresas farmacêuticas, incluindo aquelas que atuam na medicina à base de plasma.
A Blau é uma das várias empresas brasileiras que buscam se mudar para os Estados Unidos e listar na bolsa dos Estados Unidos, uma tendência alimentada pelo desejo de maior acesso aos investidores, impostos corporativos mais baixos, regulamentações mais flexíveis para os acionistas controladores e uma melhor dinâmica do mercado de capitais.
A mudança mostra como o sucesso de startups de tecnologia com listagens nos EUA – incluindo o credor digital Nubank – estimulou o interesse de empresas brasileiras em outros setores, que vão do varejo a cosméticos, em mudar seus domicílios legais, principalmente para os Estados Unidos, mas também para outros locais como a Grã-Bretanha, Irlanda e Holanda.
O Banco Inter SA, apoiado pelo SoftBank, a locaweb, provedora de serviços de Internet, a varejista Lojas Americanas e a fabricante de cosméticos Natura & Co estão entre as empresas que anunciaram essas mudanças.
A brasileira JBS SA, maior processadora de carne do mundo, também disse que buscará no próximo ano uma listagem nos Estados Unidos de suas operações internacionais.
Na terça-feira, a fabricante de aviões brasileira Embraer SA revelou um acordo com a empresa de propósito específico Zanite para listar sua subsidiária de táxi elétrico voador na Bolsa de Valores de Nova York (NYSE). As ações da Embraer dispararam com as notícias.
A saída de empresas brasileiras representa um risco crescente para a B3, que começa a buscar formas de contê-la, bem como para os gestores de fundos de base local que podem ter seu universo de investimentos restrito.
Advogados, banqueiros e executivos, no entanto, esperam que a tendência continue por enquanto, embora apontem que se limitará em grande parte a empresas com negócios significativos no exterior. Eles não esperam uma debandada corporativa para as saídas.
“Algumas empresas brasileiras desejam ter acesso a uma base de investidores maior e mais diversificada”, disse Alessandro Zema, chefe das operações do Morgan Stanley no Brasil.
Eles também querem lucrar com as avaliações geralmente mais pesadas no exterior.
As ações da Natura & Co, que anunciou sua intenção de trocar sua listagem principal de B3 para a NYSE, são negociadas a um múltiplo de preço / lucro de cerca de 29, em comparação com 41,5 da rival L’Oreal SA.
O Banco Inter, que listou pela primeira vez no B3 em 2018, é negociado a pouco mais de 12 vezes seu valor contábil, cerca de metade do seu rival Nubank, que estreou na NYSE este mês.
As empresas listadas fora do Brasil procuram mercados com mais empresas comparáveis, bem como avaliações mais altas, disse Jean Marcel Arakawa, advogado corporativo da Mattos Filho em São Paulo, citando os gestores de ativos Patria Investment Ltd e Vinci Partners Investments Ltd como exemplos.
As empresas de tecnologia geralmente decidem redomicilar porque os investidores de capital de risco tendem a preferir completar rodadas de financiamento usando holdings no exterior. Outro motivo é atrair os fundadores ou acionistas controladores a permanecer no comando, permitindo-lhes possuir ações com direitos de voto especiais e mais elevados.
Por exemplo, os sócios fundadores da 3G Capital, incluindo o magnata Jorge Paulo Lemann, permanecerão como jogadores poderosos na Americanas SA após a fusão da varejista com a Lojas Americanas e a listagem nos Estados Unidos. Os acionistas controladores do Banco Inter, a família Menin, terão posição semelhante no banco digital.
NOVAS REGRAS
Até recentemente, as empresas brasileiras não podiam listar localmente os recibos de suas ações listadas no exterior por meio de Brazilian Depositary Receipts (BDRs). Alguns decidiram abandonar a bolsa local, fazendo com que o B3 perdesse ofertas públicas iniciais e taxas de negociação para a NYSE e a bolsa de valores Nasdaq.
A CVM, órgão fiscalizador da indústria de valores mobiliários do Brasil, mudou essa regra de listagem, levando empresas como a Nubank e a corretora de investimentos XP Inc a listar seus BDRs no B3. Esses BDRs viram enormes volumes de negócios quando foram lançados.
“Tentamos acomodar as demandas das empresas conforme elas mudam”, disse Flavia Mouta Fernandes, diretora de regulamentação do B3.
O Brasil também tentou afrouxar as regulamentações que regem a propriedade dos acionistas controladores de ações com direito a supervotação, embora Fabiano Milane, advogado corporativo da Stocche Forbes em São Paulo, tenha dito que as regulamentações locais ainda não são equivalentes às de outros países.
“As empresas já listadas não podem usar o supervoto e os direitos de voto extraordinários são temporários”, disse Milane.
A frustração com a percepção de falta de previsibilidade no sistema jurídico brasileiro é outra razão que as grandes empresas optam por redomicilar, diz Luis Semeghini Souza, advogado e sócio fundador da Souza, Mello e Torres em São Paulo.
Alguns banqueiros, no entanto, estão céticos de que a atual migração corporativa se tornará uma tendência de longo prazo.
“Acho que o universo de empresas que podem se mover talvez seja 5% das empresas do B3, principalmente aquelas que têm ou pretendem ter negócios significativos no exterior”, disse Roderick Greenlees, chefe global de banco de investimento do Itaú BBA.
(Reportagem de Tatiana Bautzer e Carolina Mandl; Edição de Paul Simão)
.
FOTO DO ARQUIVO: O logotipo da fabricante de aviões brasileira Embraer SA é visto na sede da empresa em São José dos Campos, Brasil, 28 de fevereiro de 2018. REUTERS / Roosevelt Cassio / Foto do arquivo
22 de dezembro de 2021
Por Tatiana Bautzer e Carolina Mandl
SÃO PAULO (Reuters) – A farmacêutica Blau Farmaceutica SA, que listou suas ações na bolsa de valores B3 do Brasil em abril, abriu seu primeiro banco de plasma nos Estados Unidos e pode considerar a mudança de sua sede e listagem de ações para os Estados Unidos.
A empresa, que atualmente está sediada no estado de São Paulo e, até agora, tem se concentrado predominantemente em negócios na América Latina, pretende abrir 10 plasma backs nos Estados Unidos, além de seu novo site na Flórida. Assim que a expansão for concluída, a Blau pode considerar a mudança de sua sede para os Estados Unidos.
Em entrevista à Reuters, o diretor financeiro da Blau, Douglas Rodrigues, disse que os investidores internacionais, ao contrário dos brasileiros, estão acostumados com os modelos de negócios das empresas farmacêuticas, incluindo aquelas que atuam na medicina à base de plasma.
A Blau é uma das várias empresas brasileiras que buscam se mudar para os Estados Unidos e listar na bolsa dos Estados Unidos, uma tendência alimentada pelo desejo de maior acesso aos investidores, impostos corporativos mais baixos, regulamentações mais flexíveis para os acionistas controladores e uma melhor dinâmica do mercado de capitais.
A mudança mostra como o sucesso de startups de tecnologia com listagens nos EUA – incluindo o credor digital Nubank – estimulou o interesse de empresas brasileiras em outros setores, que vão do varejo a cosméticos, em mudar seus domicílios legais, principalmente para os Estados Unidos, mas também para outros locais como a Grã-Bretanha, Irlanda e Holanda.
O Banco Inter SA, apoiado pelo SoftBank, a locaweb, provedora de serviços de Internet, a varejista Lojas Americanas e a fabricante de cosméticos Natura & Co estão entre as empresas que anunciaram essas mudanças.
A brasileira JBS SA, maior processadora de carne do mundo, também disse que buscará no próximo ano uma listagem nos Estados Unidos de suas operações internacionais.
Na terça-feira, a fabricante de aviões brasileira Embraer SA revelou um acordo com a empresa de propósito específico Zanite para listar sua subsidiária de táxi elétrico voador na Bolsa de Valores de Nova York (NYSE). As ações da Embraer dispararam com as notícias.
A saída de empresas brasileiras representa um risco crescente para a B3, que começa a buscar formas de contê-la, bem como para os gestores de fundos de base local que podem ter seu universo de investimentos restrito.
Advogados, banqueiros e executivos, no entanto, esperam que a tendência continue por enquanto, embora apontem que se limitará em grande parte a empresas com negócios significativos no exterior. Eles não esperam uma debandada corporativa para as saídas.
“Algumas empresas brasileiras desejam ter acesso a uma base de investidores maior e mais diversificada”, disse Alessandro Zema, chefe das operações do Morgan Stanley no Brasil.
Eles também querem lucrar com as avaliações geralmente mais pesadas no exterior.
As ações da Natura & Co, que anunciou sua intenção de trocar sua listagem principal de B3 para a NYSE, são negociadas a um múltiplo de preço / lucro de cerca de 29, em comparação com 41,5 da rival L’Oreal SA.
O Banco Inter, que listou pela primeira vez no B3 em 2018, é negociado a pouco mais de 12 vezes seu valor contábil, cerca de metade do seu rival Nubank, que estreou na NYSE este mês.
As empresas listadas fora do Brasil procuram mercados com mais empresas comparáveis, bem como avaliações mais altas, disse Jean Marcel Arakawa, advogado corporativo da Mattos Filho em São Paulo, citando os gestores de ativos Patria Investment Ltd e Vinci Partners Investments Ltd como exemplos.
As empresas de tecnologia geralmente decidem redomicilar porque os investidores de capital de risco tendem a preferir completar rodadas de financiamento usando holdings no exterior. Outro motivo é atrair os fundadores ou acionistas controladores a permanecer no comando, permitindo-lhes possuir ações com direitos de voto especiais e mais elevados.
Por exemplo, os sócios fundadores da 3G Capital, incluindo o magnata Jorge Paulo Lemann, permanecerão como jogadores poderosos na Americanas SA após a fusão da varejista com a Lojas Americanas e a listagem nos Estados Unidos. Os acionistas controladores do Banco Inter, a família Menin, terão posição semelhante no banco digital.
NOVAS REGRAS
Até recentemente, as empresas brasileiras não podiam listar localmente os recibos de suas ações listadas no exterior por meio de Brazilian Depositary Receipts (BDRs). Alguns decidiram abandonar a bolsa local, fazendo com que o B3 perdesse ofertas públicas iniciais e taxas de negociação para a NYSE e a bolsa de valores Nasdaq.
A CVM, órgão fiscalizador da indústria de valores mobiliários do Brasil, mudou essa regra de listagem, levando empresas como a Nubank e a corretora de investimentos XP Inc a listar seus BDRs no B3. Esses BDRs viram enormes volumes de negócios quando foram lançados.
“Tentamos acomodar as demandas das empresas conforme elas mudam”, disse Flavia Mouta Fernandes, diretora de regulamentação do B3.
O Brasil também tentou afrouxar as regulamentações que regem a propriedade dos acionistas controladores de ações com direito a supervotação, embora Fabiano Milane, advogado corporativo da Stocche Forbes em São Paulo, tenha dito que as regulamentações locais ainda não são equivalentes às de outros países.
“As empresas já listadas não podem usar o supervoto e os direitos de voto extraordinários são temporários”, disse Milane.
A frustração com a percepção de falta de previsibilidade no sistema jurídico brasileiro é outra razão que as grandes empresas optam por redomicilar, diz Luis Semeghini Souza, advogado e sócio fundador da Souza, Mello e Torres em São Paulo.
Alguns banqueiros, no entanto, estão céticos de que a atual migração corporativa se tornará uma tendência de longo prazo.
“Acho que o universo de empresas que podem se mover talvez seja 5% das empresas do B3, principalmente aquelas que têm ou pretendem ter negócios significativos no exterior”, disse Roderick Greenlees, chefe global de banco de investimento do Itaú BBA.
(Reportagem de Tatiana Bautzer e Carolina Mandl; Edição de Paul Simão)
.
Discussão sobre isso post