Para comemorar o Dia da Mentira, tentei me divertir neste boletim, inclusive na escolha da correspondência do leitor e na citação do dia. Tudo é verdade, no entanto – sem brincadeira.
Sou fascinado pelo que a evolução da linguagem nos diz sobre o desenvolvimento econômico ao longo dos anos. Ao focar na linguagem, estou prestando homenagem ao meu incisivo colega de opinião John McWhorter, bem como ao grande William Safire, que durante anos escreveu a coluna “On Language” na The New York Times Magazine. A diferença é que vou tentar me manter conectado ao meu tema principal, a economia.
Considere esta cunhagem: espaço de carne. Refere-se simplesmente ao mundo físico, onde temos corpos tangíveis feitos de… carne. “Meatspace” é uma palavra que não precisava existir até a invenção do ciberespaço. O progresso tecnológico nos dá uma nova perspectiva sobre coisas que antes tínhamos como certas, neste caso a própria realidade.
“ICE Vehicle” (pronuncia-se “ice”) é semelhante. ICE é a abreviação de motor de combustão interna, um modificador que era supérfluo até os carros elétricos entrarem em cena. Como meatspace, é o que o jornalista Frank Mankiewicz chamou de “retrônimo” – um novo termo que é inventado para algo antigo porque o termo original se tornou ambíguo, geralmente devido a algum desenvolvimento, como um avanço tecnológico.
Existem muitas listas de retroônimos na internet. Entre as minhas favoritas, cada uma revelando o progresso da sociedade de uma forma ou de outra: lâmpada incandescente (necessária por fluorescente, LED, etc.); telefone fixo; relógio analógico; geometria euclidiana; cópia impressa; rádio de tubo de vácuo (em oposição ao rádio transistor – embora quem se incomoda mais em especificar o rádio “transistor”?).
Ao contrário dos retroônimos, “infraestrutura” é uma palavra antiga que continua sendo solicitada a fazer mais trabalho. Começou como um termo de engenharia ferroviária francesa referindo-se às camadas de material que ficam abaixo (“infra”) das faixas. Seu significado se expandiu para incluir estradas, pontes, esgotos e linhas de energia, e muito recentemente se expandiu novamente para incluir pessoas, especificamente cuidadores, como neste ficha técnica da Casa Branca de Biden no ano passado, que disse: “O plano do presidente faz investimentos substanciais na infraestrutura de nossa economia de cuidados, começando pela criação de novos e melhores empregos para trabalhadores de cuidados”.
Nossa língua preserva antigos modos de vida com tanta certeza quanto o âmbar preserva insetos mortos há muito tempo ou cinzas vulcânicas preservadas na antiga Pompéia. Nós ainda “cc:” pessoas em e-mails, embora cada vez mais poucos de nós tenham feito cópias de carbono em uma máquina de escrever (eu tenho). Nós “copiamos e colamos” o texto, mal cientes de que a pasta perfumada real costumava estar envolvida. Eu aprendi recentemente que letras maiúsculas e minúsculas têm seus nomes de casos de madeira reais de chumbo que eram usados pelos compositores para impressão. As pessoas ainda falam sobre “discar” números de telefone, mesmo que os telefones não tenham discagem, e “enrolar” as janelas dos carros, mesmo que as manivelas tenham desaparecido há muito tempo.
Nesse sentido, é incrível que no século 21 ainda estejamos descrevendo a força de nossos carros e caminhões em comparação com o poder dos cavalos. Esse uso remonta a James Watt, o inventor escocês que desenvolveu um melhor motor a vapor no final do século 18 e comparou-o a um cavalo, já que naquela época cavalos e polias eram usados para levantar baldes de água de minas de carvão inundadas.
A tecnologia avançou desde o século 18, mas a língua inglesa não, pelo menos quando se trata de descrever o poder dos motores. A propósito, um cavalo-vapor equivale a 746 watts – e sim, watt recebeu o nome de James Watt.
Nem toda terminologia técnica tem o poder de permanência do cavalo-vapor. Na economia, por exemplo, “priming the pump” costumava ser uma frase bem compreendida para o que hoje chamamos de estímulo. Uma bomba convencional não funcionará se houver ar na bomba ou na linha dela. Você tem que derramar água nele – para “preparar” – antes de poder tirar a água. Em uma época em que as pessoas estavam mais familiarizadas com bombas, fazia sentido para elas que o governo ocasionalmente precisasse despejar algum dinheiro na economia para fazê-la funcionar e bombear muito mais dinheiro. Essa metáfora é menos intuitivamente persuasiva nos dias de hoje.
As TVs coloridas de tela plana e de alta definição são apenas TVs hoje. As canetas esferográficas são apenas canetas. E em pouco tempo, carros elétricos autônomos serão apenas carros. O tempo e a tecnologia avançam.
Os leitores escrevem
Ao ler seu boletim de 25 de março sobre o economista Clifford Winston, um crente no livre mercado, pensei nesta velha piada: um engenheiro e um economista estão presos em um buraco fundo no chão. Depois de várias horas, o engenheiro diz: “Não consigo descobrir uma maneira de nos tirar daqui”. O economista se vira para ele e diz: “É fácil! Primeiro, assuma uma escada…”
Allan Kemp
Littleton, Colorado.
Citação do dia
“Pedir-me agora para escrever sobre como me sinto em relação a revistas de economia é como pedir a um poste para escrever um livro de memórias sobre cães.”
— Philip Mirowski, “A economia sem esforço da ciência?” (2004)
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